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Alma solitária
Felipe Branco
Em uma noite nublada e nem se via o brilho da lua. Andava pelas ruas uma alma solitária,
tão amargurada que perdera toda sua essência de vida. Pois, mesmo tão próximo
fisicamente, aparentava estar sempre muito distante, pensativa, reflexiva, como se algo
estivesse a incomodando profundamente.
Naquela noite, certo homem se aproximou com passos lentos. Estava assustado com o
que via. Em seus olhos castanhos escuros refletia apenas uma bela mulher, com olhos
grandes e verdes, em um tom mórbido; rosto pequeno e delicado, com cabelos loiros e
cacheados, parecia uma boneca.
Essa alma tinha nome e sobrenome, tinha sentimentos. Essa alma era bem parecida com
você, como eu, como sua família, como todos que você já viu ou conhece. Porém, para a
sociedade, ela tinha defeitos, era diferente dos outros, não se encaixava em lugar algum.
Como resultado, decidiu se isolar. Estar só a deixava feliz, afinal, assim não era julgada
e, por um curto período de tempo, era livre; livre de rótulos, das comparações.
O homem, ao notar seu olhar vazio, sem hesitação tocou sua mão. Simplesmente com um
toque, seus olhos verdes e mórbidos foram ficando cada vez mais vivos e brilhantes. Ela
percebeu que alguém, pelo menos uma pessoa nesse mundo, conseguia fazê-la sorrir. Não
um sorriso forçado, mas sim um sorriso de alívio. A alma que estava extremamente triste
ficava segura ao seu lado.
Em pouco tempo, o brilho em seus olhos iluminou aquela noite. Coisa que sequer a lua
conseguiu.
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