Revista Pulsar nº 28 PULSAR | Page 6
A ESTRELA DE BELÉM
por José Matos
A
S
T
R
O
Magos foram guiados até Belém por
uma estrela que lhes indicou o local onde
tinha nascido Jesus. A “estrela de Belém”
provavelmente nunca existiu, mas tem
sido ao longo do tempo motivo de especulação e de debate entre os defensores de várias teorias. Há quem fale na
aparição de um cometa, outros na conjunção de dois planetas: Júpiter e Saturno; ou Vénus e Júpiter; ou ainda Júpiter
e a Lua; ou mesmo na possibilidade de
vários fenómenos que terão impelido os
reis magos até Belém.
Se correspondeu a um fenómeno
real ou não, nunca o saberemos, pois
o aparecimento desta estrela é apenas
referido no evangelho de S. Mateus, o
que tem feito alguns estudiosos duvidar
do carácter histórico do fenómeno. Será
que quem escreveu o evangelho apenas
fez o relato da estrela para legitimar o
carácter divino de Jesus? Ou será que
corresponde mesmo a um fenómeno
astronómico comentado na época do
nascimento do Messias?
Antes de mais nada, é preciso
conhecer com rigor a altura em que Jesus nasceu e isso é difícil de saber, pois
várias pesquisas apontam para entre
7a.C. e 5a.C. Sabe-se que nasceu durante o reinado de Herodes e que este terá
morrido pouco depois do eclipse da Lua
de 13 de Março do ano 4a.C., pelo que
Cristo terá nascido antes desta data. Mas
se foi um ano, ou dois antes, é difícil de
determinar. Portanto, os poucos elementos que existem, não permitem determi-
nar uma data rigorosa, o que torna também difícil fazer a ligação a um fenómeno
astronómico.
Uma conjunção de planetas
Apesar das dúvidas, foram avançadas várias teorias ao longo do tempo para
explicar a famosa “estrela da Belém”. A
mais popular é que a “estrela de Belém”
terá sido uma conjunção entre dois planetas que, devido à sua proximidade aparente no céu, teriam surgido muito juntos.
A hipótese de que terá sido uma conjunção planetária entre Júpiter e Saturno,
foi avançada pela primeira vez no século XVII, por Johannes Kepler, um dos
grandes astrónomos daquela época.
Em Dezembro de 1603, Kepler observou, em Praga, uma conjunção planetária envolvendo Júpiter e Saturno na
constelação dos Peixes. Kepler sabia que
para os astrólogos judeus, a constelação
dos Peixes era o signo de Israel, o signo
do Messias. Assim, lançou a hipótese
de que Cristo teria nascido igualmente
durante uma conjunção de Júpiter e
Saturno nesta constelação e que a “estrela de Belém” podia ser interpretada à
luz deste fenómeno.
A dança de Júpiter e Saturno
Usando um programa de computador
é possível constatar que no ano 7a.C.
deu-se, com efeito, uma conjunção tripla
de Júpiter e Saturno na constelação de
Peixes – tal como Kepler havia calculado
– que terá sido visível em condições muito favoráveis a partir da Palestina.
Sabe-se que, na altura, viviam milhares de judeus na Babilónia e é natural que alguns deles tivessem formação
em astrologia e que interpretassem este
fenómeno como um sinal de que algo
de importante ia acontecer na Palestina.
Neste contexto, é razoável admitir que os
Reis Magos seriam astrólogos ou místiconjunção planetária.
sido avistada a primeira aproximação
entre os dois planetas no céu da madrugada. Nesta altura, os dois planetas eram
visíveis no céu a Este, por volta das 2 da
manhã, continuando nesta zona do céu
até o Sol nascer. Como os Magos viajavam de Leste para Oeste, esta conjunção
é contraditória com o sentido da sua viagem, mas a conjunção voltou a acontecer
no princípio de Outubro desse ano, sendo
visível durante grande parte da noite. No
entanto, mais uma vez, os dois planetas
surgem a Este no começo da noite e a
Oeste só ao meio da madrugada. Supondo que os Magos teriam partido em
Outubro – Maio não era propício a longas
viagens, devido à proximidade do Verão
e do calor – e que a viagem terá durado
com os dois planetas a surgirem a Sudeste ao princípio da noite. Finalmente no
e última conjunção dos dois planetas.
Nesta última conjunção os dois planetas surgiam, no horizonte Sul, no começo
da noite, de forma que os Reis Magos
os teriam sempre diante dos seus olhos
no caminho de Jerusalém para Belém –
“adiante deles”, tal como diz a Bíblia.
ria: os dois planetas nunca aparecem,
como um único astro; nas duas primeiras
conjunções surgem num ponto cardeal
contraditório com o sentido da viagem; e
como reza a tradição, mas sim na Primavera, pois de acordo com o evangelho de
S. Lucas “existiam no campo pastores
que vigiavam os seus rebanhos” situação
pouco provável no rigoroso Inverno de
Belém, em que os rebanhos não saíam
para os campos.
Novas e supernovas
FIGURA 1 - Fresco A Adoração dos Magos – Giotto (1303-1305) - Capela
Scrovegni, Pádua. Crédito: © Web Gallery of Art
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Uma outra hipótese que teria sido
avançada por Kepler seria a de que a conjunção entre Júpiter e Saturno teria provocado a explosão de uma estrela, que
teria guiado os Reis Magos até Belém.
Kepler, observou de facto no tempo dele,
uma supernova, ou seja, uma estrela que
explode e ganha durante algum tempo
um brilho invulgar no céu. Mas sa