Revista Panorama #5 Maio 2014 | Page 22

REPORTAGEM GM ] 20 ANOS DE SAUDADE DA REDAÇÃO maior erro de cálculo da vida de Ayrton Senna não foi cometido a bordo de nenhum dos carros de Fórmula 1 que ele pilotou nos 161 grandes prêmios que disputou. Ayrton não estava nem na direção quando aconteceu. O carro era um sedã Monza de fabricação brasileira, pertencente a Galvão Bueno, que era também quem estava na direção, tendo ao lado o pai de Senna, Milton da Silva. Ayrton estava no banco traseiro esquerdo. Ao seu lado, Sérgio Rodrigues, correspondente do Jornal do Brasil." Este trecho abre o sexto capítulo da biografia de Senna, "Ayrton, o herói revelado", escrita por Ernesto Rodrigues. O erro a que Rodrigues se refere foi a declaração do piloto, em 1988, de que estava afastado da atenção da mídia por querer deixar espaço para que o tricampeão mundial, Nelson Piquet, pudesse aparecer. Apesar de dizer que se tratava de uma brincadeira, o comentário foi publicado e causou um grande mal estar entre os pilotos. Enquanto crescia a rivalidade com Piquet e com o francês Alain Prost, começaram a surgir boatos sobre a sexualidade de Senna, que já fora casado, namorou Xuxa e, depois, Adriane Galisteu. O episódio prejudicou a impecável imagem pública de Senna – ele era, afinal, apenas humano e tam- “O [ 22 MAIO D E 2 0 1 4 DUAS DÉCADAS DEPOIS DE SUA TRÁGICA MORTE, O PILOTO AYRTON SENNA DA SILVA AINDA PROVOCA ADMIRAÇÃO E CURIOSIDADE DE FÃS DA FÓRMULA 1 bém brigava com os rivais fora das pistas. Mas sua reputação de fenômeno ao volante nunca foi posta em questão. Por dez anos, os brasileiros acompanharam as corridas da Fórmula 1, nas madrugadas, manhãs e tardes de domingo, fizesse chuva ou sol, para ver Ayrton Senna ousar nas pistas. Não havia erro de cálculo ali. No dia primeiro de maio de 1994, porém, Senna sofreu um acidente fatal, aos 34 anos, no Grande Prêmio de San Marino, em Imola, na Itália. Bateu a 300 km/h contra o muro da curva Tamburello com sua Williams FW 14. Ele liderava a prova e tinha Michael Schumacher, da Benetton, logo atrás. O alemão assumiu o trono da Fórmula 1 desde então. Será que Schumacher ainda estaria em segundo plano se o brasileiro tivesse sobrevivido? Esta é uma possibilidade que podemos apenas imaginar. Mas há quem diga que o circo da F1 teria proporcionado disputas muito mais emocionantes e confrontos mais iguais nos anos seguintes se Senna estivesse nas pistas. O que fazia Senna brilhar e se Ayrton Senna: a morte do tricampeão de Fórmula 1 e ídolo do Brasil, em 1º de maio de 1994, deixou um vazio até hoje não preenchido destacar dos demais pilotos era sua ousadia. "Ele andava sempre no limite e cometeu muitos erros no começo de sua carreira. Quando conseguiu ter controle e desenvolver mais suas habilidades, continuou a dar o máximo e foi tricampeão do mundo", conta Wilson Fittipaldi Jr., irmão do bicampeão Emerson Fittipaldi e ex-piloto de Fórmula 1. "É difícil imaginar como seria o automobilismo hoje se ele estivesse vivo", acrescenta Wilsinho. O repórter da Rede Globo B