Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - Edição Especial 01 | Page 42
LiteraLivre Edição Especial nº 1
financeiras impostas pela sociedade, assim fugiu ao amor por Justine a quem
fintava seus cachos dourados em segredo, amar era o significado mais cheio
de ternura de sua liberdade, ainda que um amor platônico e meio a sua
malfadada desventura financeira.
A jovem e bela Justine também teria sido fruto do ocaso do poço ao luar,
seu patrão, o ferreiro Joaquim contava-lhe que ao deflorar sua amada mulher
descobriu que ela era estéril. Assim Joaquim clamou ao Deus do alto e o poço
do baixo o qual a fundura não se podia desvelar, depositou toda semana um
dobrão naquele poço até que com os meses a resposta lhe sobreveio pela
esperada gravidez de sua mulher. Joaquim que conhecia terras inglesas assim
batizou Justine por considerar justiça e gracejo do insondável poço o qual
somente se poderia vislumbrar pelo ribombar dos sons dos dobrões caindo em
seu fundo.
Muitas eram as histórias de desejos atendidos por coincidência e sorte ou
destino dos deuses e orixás. Mas João ainda que um crente no Deus dos
cristãos passou lá depositar moedas junto com sua fé, na esperança de que
seu desejo se concretizasse.
Durante o primeiro mês João passou depositar todos os sábados suas
finanças e esperanças, mas como num infortúnio não teve respostas a não ser
um agourento silêncio do poço. Assim passou-se dois meses e mesmo quando
as trevas da noite se adensavam João passou a depositar e depositar.
Passou-se então quatro meses, cinco e seis até que numa noite sob a lua
cheia João parecia exasperado com aquele lugar. Depositou suas moedas até a
última o fundo tocar e murmurou e depois praguejou contra o infortúnio do
poço que tragou por gerações passadas adentro fortunas. Tomado então por
uma perplexidade mesclada a fúria inclinou-se sob a abertura na esperança de
que o fulgor do luar lhe descortinasse algo. Ouviu água, mas apenas de forma
37