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LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018
o esquartejamento. O machado de ferro para romper os ossos e a faca limada
para manter o fino fio da navalha. A cabeça decepada se junta aos miúdos do
corpo jogados em um canto. Os olhos continuam esbugalhados, observando suas
próprias partes separadas da matéria, da vida. O ar impregnado do cheiro
nauseabundo de sangue.
A faca afiada corta e recorta o boi em pedaços. Em poucos minutos o corpo
morto é apenas fragmentos que serão expostos e vendido no próprio mercado e
nas bancas da feira. Ali a compra é feita por peças; cada um da assistência já
tem seu pedaço escolhido. Atando-o à ponta de um arame numa espécie de
gancho, ou até mesmo numa carriola quando saem a carregar seu naco de carne
pelas ruas da cidade, destino à mistura do almoço, do banquete, da festa sobre o
cadáver cozido do boi morto.
Chega hóspede amigo, serve-te!... O boi já não chora mais.
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