Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 83
LiteraLivre nº 5
De quem não tem o que comer
De também não ter comida
E só esperar o dia de morrer?
Eis que o meu marido
Que não tem o que fazer
Aprendeu a rezar morto
Mas não tem o que comer
Pois nenhum dinheiro aqui
Nos faria sobreviver
Pois não temos onde comprar
Arroz ou mesmo feijão
Macarrão ou qualquer verdura
Farinha, biscoito ou pão
A seca comeu tudo
Destruiu todo o sertão
O pobre viajante
Comovido de escutar
Ficou triste e pensativo
O que poderia falar
Tudo que já vivera
Também estava naquele lugar
A dor, o choro a morte
A tristeza e o sofrimento
Também estavam presentes
Os abutres que não perdem tempo
Voam raso na campina
Em busca de algum alimento
Aquele homem pensou
O que faria então
Ali só tinha emprego
Para velar algum caixão
Resolveu aceitar e ficar ali
Melhor que sozinho no mundão
Minha senhora com respeito
Prefiro ficar aqui
Tirar uma ladainhas
Orar pra um morto sorrir
Preciso de algum lugar
- Setembro de 2017
Pois não tenho pra onde ir
Vou fazer esses trabalhos
Embarcar nessa profissão
Viver aqui nesse lugar
Enquanto eu tiver obrigação
Pois a redondeza inteira
Não tem outra condição
Aquela senhora então
Lhe convidou a entrar
Não podia lhe oferecer café
Muito menos uma xicara de chá
Pois a seca era tamanha
Que a água estava a acabar
Ela então lhe relatou
Um pouco do seu sofrimento
A dor de perder um filho
Por não ter alimento
A dor de uma perda
Pois a gravidez não teve sustento
Contou sobre as agruras
De uma vida tão sofrida
Que ninguém ali era feliz
Uma vida desiludia
A tempo que a seca
Tirou de todos a vida
Estavam vivos sim
Mas vivendo estavam não
Desde o inicio da seca
Ser ter nenhuma plantação
Faltando água e comida
Faltando alegria no coração
Qual então era o sentido
De não ter na vida prazer
Viver uma vida tão dura
Destinados a sofrer
Tendo a apenas a certeza
A espera de morrer
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