Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 82
LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
Morte e Vida Nordestina
Roziele Lima Silva
Bahia
Chegou nesse tenro sertão
Um moço desconhecido
Vindo de bandas do norte
Tendo um semblante sofrido
Era ele um viajante
Um busca de qualquer abrigo
Vindo já creditado
De tanto sofrimento no mundo
De ver os animais tendo fome
Morrer ou ficar moribundo
Tendo tanto sofrimento
Que lhe deixava sisudo
Esse pobre homem
Era um simples viajante
Tinha uns tinta e poucos anos
Mas a velhice lhe era constante
Pois tantos foram os sofrimentos
Que arruinaram seu semblante
Chegando aqui no sertão
Bem na seca do nordeste
Encontrou um rancho velho
Bem no meio do agreste
E deu um bom dia a dona
Uma mulher cabra da peste
Bom dia minha senhora
Que mora nesse lugar
Me informe por gentileza
Onde posso me arranchar
Onde arrumo um trabalho
Para minha vida aqui tocar
Me diga pois já andei
De longe nesses caminhos
Vi tanta coisas tão tristes
E hoje estou tão sozinho
Me sinto um cão sem dono
Um pássaro sem ter ninho
Não tenho mais uma família
Pois a seca quem levou
Morreram de fome e sede
Nem o cachorro aguentou
Perdi minha mulher e meus filhos
Pai mãe e meu avô
Atenta aquela senhora
Estava a lhe escutar
Ao contar a sua sina
O que tive que passar
A seca, a fome e a dor
Também presentes naquele lugar
E ela disse assim
Sinto não poder ajudar
Poi s a seca aqui chegou
E a muito come esse lugar
Aqui mesmo so tem emprego
Pra covas poder cavar
Será que lhe ensinaram
Como um morto rezar?
Como tirar ladainhas
Como cordel decorar?
Como passar muitas noites
Em velórios gente consolar?
Será que o senhor entende
O drama de ter que ver
Todo dia um enterro
77