Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 76

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 Entendo agora que a morte é cruel e faz escassear as memórias dos momentos que vivemos juntas. Sei agora que perder quem gostamos é como que perder uma parte de nós e que não se consegue colocar um adesivo porque a cola solta-se com o tempo e a saudade vem de forma mais persistente. Claro que o que vivi contigo fez de mim, a pessoa que sou hoje e independentemente das nossas diferentes escolhas apoiava-mo-nos. E, agora eu caio constantemente, tropeço somente no recordar da entoação da tua voz que de forma aliciante me dizia que tudo ia correr bem. Mas sinto sempre que não me chega e que não me conforta e o meu peito sabe-o muito bem porque não descansa. Eu não me lembro de termos combinado sair deste mundo cedo. Lembras-te? Porque acho que te antecipas-te cedo demais e não te despediste de mim. Eu Procurei-te porque sabia que algo tinha acontecido. Falamos um dia antes e tu disseste-me que estavas bem. Mentiste-me ou foi para não me preocupar mais ainda? Não me avisaste de imediato que tinhas sido mãe novamente e que não estavas bem. Mas agora confesso-te a minha ansiedade na espera do teu telefonema me levou a recear, ainda mais, por ti. Sei agora que a morte se vai repetindo várias vezes enquanto vivemos e isso demora, de facto, até morrermos definitivamente. 71