Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 47

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 entender que na dor nada se ensina, na vontade de estar sempre certo é que se veste o erro. Tinha pena de falsas intenções; sempre fui desconfiada. Eu via as intenções mais que ações e era por isso que em alguns momentos uma cacetada bem visível me doía menos que uma vírgula disfarçada posicionada em lugar estratégia, como objeto-palavra- indireta, feito manipulo-sua-ação. Depois de um pouco crescer, eu entendi que não era na culpa, nem na pena; era na anulação de todos os sentimentos que o amor existia. Passei a não me colocar uma culpa inventada, passei a não dar-me desculpas, passei a não ter pena porque a pena me colocava a cima e eu não era acima nem abaixo; eu só queria ser o equilíbrio de não ser nada. Eu amava apesar de; eu entendia e deixava que a vida continuasse, eu guardava em mim uma esperança de que a vida tivesse sempre a lição certa a ensinar. Eu não me sentia tão sabia quanto a vida, eu era sua aprendiz de amor. Eu só era uma pequena observadora dos anseios alheios de dar sempre nome e sentido a tudo que se passa debaixo do céu. Eu não tinha sentido, em muitos momentos eu não via nem fazia sentido algum. Eu só ocupava um lugar que era meu por direito e que com o tempo aprendi a dar-me o direito. Queria ter o privilégio de um dia poder transformar toda e pequena magoa em palavra escrita. A palavra escrita é acima, é maior e mais próxima de uma perfeição amorosa do que a palavra falada. A palavra escrita é minha compreensão da palavra, é minha testemunha fiel; ela vai além da fala porque é o entendimento de um sentimento e não só sua expulsão corpo a fora. É a palavra refletida no espelho da maturidade, reflexo de minhas tentativas de ocupar o lugar do outro. O lugar do outro é difícil, ele nunca é o mesmo espaço, ele é ou maior ou menor que o meu; às vezes 42