Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 46

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 Entre Tatiana Angèle de Carvalho Bordeaux - France Nas coisas que eu tinha a obviedade de viver... de um dia vir a viver, existia uma distância. Entre mim e as coisas obvias guardadas para minha continuidade, nessa distância, que a vida não tinha intervindo para que existisse, mas que eu sentia que era proposital, eu encontrava um amor apreendido; uma lição das mais difíceis, como as de matemática que não me faziam sentido, daquele quociente que conseguimos chegar com precisão ovalar, mas sem captar a lógica. Um amor delicado moldado no suor das minhas compreensões. Um amorzinho - no diminutivo não por ser pequeno - mas por ser menos natural; menos perfeito que um amor sem a distanciação da observação. Era um amorzinho observado, um amor passo a passo, difícil de chegar, de encostar. Eu amava... Mas não abraçava; desse amor sem elogios que eu falo. Não tinha cheiro de amor, não tinha mudança de pulsação. Era meu amor que eu aprendia a suportar em cada solidão, em cada pessoa que dizia-ser amor, mas fingia-se. Era não só a aceitação de situações e pessoas; era amar as pessoas em cada situação, mesmo omitindo o que delas vinha de encontro. Quando me machucavam, eu inventava mil desculpas na minha cabeça para justificar a ação dirigida a mim, e assim continuar a poder amar. Colocava-me nas costas a culpa para que com a culpa eu me sentisse na obrigação de continuar a compreender e a amar acima de tudo. Depois da culpa vinha a pena... muita pena do outro, que me feria na ânsia de acertar, de me ensinar, de educar, e mal podia com sua visão 41