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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
Recebi uma gentileza de desconhecido!
Fiquei cheia de felicidade por deparar com semelhante cidadão. Não
conseguia sequer olhar para ele. Podia cair em pranto! Agradecida, voltei à
respiração, já que precisei novamente recorrer a ela, visto que a boa moça me
atendia tal qual um jabuti. Antes da lentidão dela me desesperar, recomecei as
respirações.
Outra fila, a do caixa conseguia ser maior. A única que se divertia ali era
uma criança fofa, que ao aguardar, atacava as balas e chocolates pendurados.
Outros compulsivos, aumentavam suas cestinhas com vitaminas e cremes. Até
dei uma olhada num protetor solar, mas me contive. Esperar faz bem ao
estabelecimento.
Um moço, cortador de fila, bufava na minha frente, irritado com a
espera, como todos. Neste caso, ou vai embora, ou espera. Mas o moço queria
reclamar, como é comum nos brasileiros. Parar em qualquer lugar é correr o
risco de ouvir insatisfação do povo. Muito difícil ouvir algo bom e positivo.
Lá pelas tantas, o bufador virou-se para mim, a fim de jogar seu lixo
tóxico. Bufei de volta, mostrando que não queria receber aquilo, mesmo por
que não acho que reclamação vai fazer a fila andar mais rápido. Quero paz! Já
estava também lidando com a longa espera sem reclamar.
Só para ele está difícil?
Voltei a mim, tentando deixar produtiva a espera. Imaginei se todos ali
estivessem bufando. Se cada um achasse que sua doença é pior, ou que está
com fome, frio, cansaço, ganha mal e assim vai. Não que muitos não
estivessem pensando nisso, comparando-se ao desgraçado a sua frente.
Chegou a minha vez e fiquei animada. Sou toda sorrisos para a caixa,
que contou com alegria como se livrou de uma gripe que não desgrudava dela.
Outro do meu lado, reclamava para moça do caixa. A culpa era dela. Foi ela
que organizou o serviço de atendimento.
É muito comum de brasileiro reclamar para o trabalhador de um
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