Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 127

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 Recebi uma gentileza de desconhecido! Fiquei cheia de felicidade por deparar com semelhante cidadão. Não conseguia sequer olhar para ele. Podia cair em pranto! Agradecida, voltei à respiração, já que precisei novamente recorrer a ela, visto que a boa moça me atendia tal qual um jabuti. Antes da lentidão dela me desesperar, recomecei as respirações. Outra fila, a do caixa conseguia ser maior. A única que se divertia ali era uma criança fofa, que ao aguardar, atacava as balas e chocolates pendurados. Outros compulsivos, aumentavam suas cestinhas com vitaminas e cremes. Até dei uma olhada num protetor solar, mas me contive. Esperar faz bem ao estabelecimento. Um moço, cortador de fila, bufava na minha frente, irritado com a espera, como todos. Neste caso, ou vai embora, ou espera. Mas o moço queria reclamar, como é comum nos brasileiros. Parar em qualquer lugar é correr o risco de ouvir insatisfação do povo. Muito difícil ouvir algo bom e positivo. Lá pelas tantas, o bufador virou-se para mim, a fim de jogar seu lixo tóxico. Bufei de volta, mostrando que não queria receber aquilo, mesmo por que não acho que reclamação vai fazer a fila andar mais rápido. Quero paz! Já estava também lidando com a longa espera sem reclamar. Só para ele está difícil? Voltei a mim, tentando deixar produtiva a espera. Imaginei se todos ali estivessem bufando. Se cada um achasse que sua doença é pior, ou que está com fome, frio, cansaço, ganha mal e assim vai. Não que muitos não estivessem pensando nisso, comparando-se ao desgraçado a sua frente. Chegou a minha vez e fiquei animada. Sou toda sorrisos para a caixa, que contou com alegria como se livrou de uma gripe que não desgrudava dela. Outro do meu lado, reclamava para moça do caixa. A culpa era dela. Foi ela que organizou o serviço de atendimento. É muito comum de brasileiro reclamar para o trabalhador de um 122