Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 126

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 Tarado de Fila Cláudia Cristina Mauro Guaratinguetá/SP Dia quase terminando, mas ainda faltava para fechar a noite, uma passada na farmácia. Tentei não me inquietar, enquanto observava a quantidade de pessoas na minha frente. Naquela hora era comum e farmácia virou point contemporâneo, logo vão oferecer cafeteria e loja de 1,99 nelas. Comer, comprar e sair com seu remédio. Nem sei como ainda não pensaram nisso. Não havia muito o que fazer. Poderia ir embora e fazer as compras outro dia, ou poderia fazer respirações profundas, enquanto aguardava. Observei as pessoas e foi com pesar que percebi a dependência de medicação no mundo contemporâneo. Vejo a quantidade de faixa preta que vai saindo. O que nos tornamos? ― O próximo, por favor! Sou tirada de modo abrupto dos meus pensamentos sobre a medicalização do ser humano. Volto à realidade. Não, não sou a próxima. Sorrio para o moço ao meu lado, é a vez dele. ― Pode ir ― disse o moço. Houve um instante de choque e eu respondi meio sem voz: ― Obrigada. Saltei na atendente, talvez com receio de ele voltar atrás em sua decisão. A situação tirou o meu eixo. Estonteada, tentei fazer os meus pedidos a atendente. O que foi isso? ― pensei presa àquele atordoamento que não melhorava, insistia em me estremecer. A constatação do fato foi chocante. Um ser humano me deixou passar na frente! 121