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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
Tarado de Fila
Cláudia Cristina Mauro
Guaratinguetá/SP
Dia quase terminando, mas ainda faltava para fechar a noite, uma
passada na farmácia. Tentei não me inquietar, enquanto observava a
quantidade de pessoas na minha frente. Naquela hora era comum e farmácia
virou point contemporâneo, logo vão oferecer cafeteria e loja de 1,99 nelas.
Comer, comprar e sair com seu remédio. Nem sei como ainda não pensaram
nisso.
Não havia muito o que fazer. Poderia ir embora e fazer as compras outro
dia, ou poderia fazer respirações profundas, enquanto aguardava.
Observei as pessoas e foi com pesar que percebi a dependência de
medicação no mundo contemporâneo. Vejo a quantidade de faixa preta que vai
saindo. O que nos tornamos?
― O próximo, por favor!
Sou
tirada
de
modo
abrupto
dos
meus
pensamentos
sobre
a
medicalização do ser humano. Volto à realidade. Não, não sou a próxima.
Sorrio para o moço ao meu lado, é a vez dele.
― Pode ir ― disse o moço.
Houve um instante de choque e eu respondi meio sem voz:
― Obrigada.
Saltei na atendente, talvez com receio de ele voltar atrás em sua
decisão.
A situação tirou o meu eixo. Estonteada, tentei fazer os meus pedidos a
atendente.
O que foi isso? ― pensei presa àquele atordoamento que não melhorava,
insistia em me estremecer. A constatação do fato foi chocante.
Um ser humano me deixou passar na frente!
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