Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 117

LiteraLivre nº 5 teatro, de teatro e tendo recebido afagos em profusão da corte elisabetana. Dentre os brasileiros, enquadram-se nesse faustoso rol apenas dois nomes: Jorge Amado e Érico Veríssimo. Paulo Coelho, o mais exitoso literato tupiniquim do ponto de vista de mercado, financeiro, quase um popstar, ainda não foi aprovado pelo crivo inexorável da crítica especializada em rotular padrão de qualidade a um homem de letras. Contudo, infelizmente, contudo, há escritores que produziram verdadeiras gemas literárias; prosa e/ou poesia amalgamadas com diamantes e rubis; epifanias, iluminações e deslumbramentos sob a forma de letras, e que não tiveram a primazia de ver o trabalho reverenciado (e remunerado) ainda em vida. No círculo ultramarino os exemplos são vastos, principiando pelo criador da maior obra-prima da prosa ocidental, O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, Miguel de Cervantes – inclusive contemporâneo de Shakespeare – que nasceu, viveu e morreu financeiramente aos trancos e barrancos e não vislumbrou, nem uma réstia de luz sequer, do sucesso estrondoso que o seu maior produto (o cavaleiro enlouquecido e febril do planalto central da Espanha) faria de forma progressiva e geométrica ao longo dos séculos. - Setembro de 2017 À guisa de simulação, se um 1/10 dos direitos autorais auferidos com a venda de sua obra principal, e mais, se os royalties de uso de imagem e patente do seu cavaleiro errante fossem embolsados, o escriba espanhol decerto teria condições de ser dono de uma das fabulosas e valorizadas ilhas baleares. Há casos similares ainda em Europa de tempos mais recentes, como o tcheco Franz Kafka, que pouco antes de falecer, ainda em condição de autor pouco conhecido, autorizou o seu amigo Max Brod a atirar na fogueira todas as suas obras, inclusive o clássico O processo. Felizmente o seu dileto, lúcido e verdadeiro amigo não cumpriu o insano desejo do falecido. Há outros exemplos como Marcel Proust, Rimbaud, Jane Austen, as irmãs Brontë, Guy de Maupassant, Edgar Allan Poe, este último cada dia mais lido e cada dia mais usado como parâmetro na arte de construir histórias de qualidade temperadas com especiarias que demandam sucesso via de regra, como suspense, terror e mistério. Nenhum deles gozou, no plano terreno, da fama e das benesses que dela decorre. No Brasil, como já foi mencionado, muita coisa boa já foi produzida aqui; trabalhos reconhecidos e laureados de diversos autores; muita medalha, insígnia, condecoração, divisa, no 112