Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 113

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 Primeira Desilusão Sonia Regina Rocha Rodrigues Santos/SP Inocente de tudo, sem nunca antes ter amado alguém, apaixonei- me por um homem casado. Creio que seria inevitável. Aí estava a mão do destino. A mulher dele era uma megera - autoritária, prepotente, sempre insatisfeita, a reclamar de tudo, a exigir o sangue daquele marido infeliz. O medo de ser descoberta impedia-me de rir, de brincar, por vezes até de respirar. A situação tornara-se de tal forma intolerável que resolvi esclarecer de vez a questão e propus-lhe a fuga, em uma carta apaixonada. Que ele deixasse aquela bruxa horrível que lhe atormentava a existência, que viesse comigo, que se dedicasse só a mim, e por aí afora eu prosseguia declarando o meu amor nos termos mais românticos. À noite, ao despedir-me dele, coloquei a carta no bolso de dentro de seu paletó; ele prometeu que a leria mais tarde, que eu esperasse pela resposta na manhã seguinte. Mal dormi, tanta era a expectativa. No café da manhã do dia seguinte, ela, que geralmente dormia até mais tarde, estava ao lado dele. Assim que me aproximei, ele pôs-se a rir, repetindo para ela trechos da minha carta. Meu coração culpado congelou de pavor. A decepção, a dor, a confusão...como descreverei o meu espanto? Pois ele então não me amava? Em meio às lágrimas, eu via os pedacinhos da carta caírem ao 108