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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
Primeira Desilusão
Sonia Regina Rocha Rodrigues
Santos/SP
Inocente de tudo, sem nunca antes ter amado alguém, apaixonei-
me por um homem casado. Creio que seria inevitável. Aí estava a mão
do destino.
A mulher dele era uma megera - autoritária, prepotente, sempre
insatisfeita, a reclamar de tudo, a exigir o sangue daquele marido infeliz.
O medo de ser descoberta impedia-me de rir, de brincar, por vezes
até de respirar. A situação tornara-se de tal forma intolerável que resolvi
esclarecer de vez a questão e propus-lhe a fuga, em uma carta
apaixonada.
Que ele deixasse aquela bruxa horrível que lhe atormentava a
existência, que viesse comigo, que se dedicasse só a mim, e por aí afora
eu prosseguia declarando o meu amor nos termos mais românticos.
À noite, ao despedir-me dele, coloquei a carta no bolso de dentro
de seu paletó; ele prometeu que a leria mais tarde, que eu esperasse
pela resposta na manhã seguinte.
Mal dormi, tanta era a expectativa.
No café da manhã do dia seguinte, ela, que geralmente dormia até
mais tarde, estava ao lado dele. Assim que me aproximei, ele pôs-se a
rir, repetindo para ela trechos da minha carta.
Meu coração culpado congelou de pavor.
A decepção, a dor, a confusão...como descreverei o meu espanto?
Pois ele então não me amava?
Em meio às lágrimas, eu via os pedacinhos da carta caírem ao
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