Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 4ª edição | Página 12
LiteraLivre nº 4
ambiente. Viu duas portas que deveriam dar acesso a outras salas. Ahmed e
se dirigiu para a direção que lhe parecia a mais promissora.
A construção, linda e arrumada, se revelava ser uma estrutura artificial.
Estranhamente, não havia nenhuma forma de vida animal, nem sequer mofo
ou líquen. O jovem beduíno sentia uma crescente apreensão em caminhar
sozinho por aquele porão. Explorou três túneis que ramificavam-se a partir do
prime iro quarto, encontrando apenas alguns furos nas paredes. Finalmente, no
último quarto além do último túnel, descobriu algo diferente. Umas caixas
lisas, feitas de um material acinzentado. Nenhum sinal de corrosão para indicar
a idade. Tudo ao redor, estavam espalhados objetos metálicos, oxidados e
desgastados pelo tempo. Em um canto, havia uma pequena pilha de objetos,
de um material semelhante ao das caixas cinzentas. Estes, no entanto, tinham
uma aparência ainda mais intrigante. Redondos, com um buraquinho central,
como para enfiá-los a fazer gargantilhas, o como antigas moedas perfuradas.
Ahmed nunca tinha visto objetos semelhantes, nem sequer conhecia o
misterioso material de que eram feitos. Segredos militares? Vestígios de uma
civilização antiga o até de seres extraterrestres? O jovem beduíno sabia que o
clima e a aridez do deserto podem manter os rastos por milhares de anos, mas
também sabia que o vento de areia mói as rochas, cobre as pegadas, gasta e
desfigura os objetos. Ahmed apanhou um punhado de aqueles discos,
envolveu-lhos no cheche, o pano comprido usado para cobrir a cabeça, e subiu
para o ar livre. Naquela noite, sob o céu estrelado, o jovem imaginou ver mil
corpos celestes viajando nas profundezas do espaço, até se tornar mais densos
que as caravanas ao longo das rotas do deserto. Seu coração sugeria que os
objetos misteriosos, finos, brilhantes e nítidos, fossem o legado de visitantes
misteriosos, chegados de outro mundo, em tempos antigos. O deserto, onde
ele viajava com o seu dromedário, já fora o centro de uma região fértil,
sulcada por rios, com campos férteis e florestas. O porão misterioso guardava
os escritórios técnicos e os arquivos de uma antiga cidade.
Os beduínos sabiam que alguém tinha vivido no deserto antes deles e suas
lendas contavam que outra vez aquelas terras foram férteis e irrigadas. Eles
achavam nas rochas desenhos de animais que não existiam mais, como os
elefantes e hipopótamos, que só poderiam viver perto de muita água e tinham
que devorar grandes quantidades de grama. As salas enterradas nas dunas
guardavam objetos de alta tecnologia, talvez um arquivo de conhecimentos
7