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LiteraLivre nº 4
secretos. A notícia da descoberta se espalhou rapidamente e Ahmed tornou-se
um guia, o mais apreciado do deserto. Estudiosos e curiosos procuravam-no
para os guiar até às “caves dos discos”, como tinham sido batizados os porões
enterrados nas dunas.
Os discos translúcidos foram recolhidos e protegidos detrás de um vidro, no
pequeno museu local, e classificados como “objetos de material desconhecido,
provavelmente relacionados com os cultos de uma antiga civilização
desaparecida”. Nas décadas que se seguiram, muitos arqueólogos e lingüistas
“de fronteira” desenvolveram suas tentativas para decifrar as pequenas estrias,
quase invisíveis que decoravam a face dos discos. Um eminente físico tentou
mesmo fazer passar raios de luz através de elas, para estudar os efeitos da
refração. Os discos permaneceram um mistério e a atenção dos estudiosos
diminuiu. Apenas continuaram a falar deles os devotos dos eventos misteriosos
e os proponentes de teorias esotéricas sobre as origens da civilização.
Ninguém nunca veio a descobrir que alguns deles continham os arquivos de
uma grande empresa petrolífera, outra parte contendo enciclopédias, manuais
técnicos e uma rica antologia da literatura mundial, a partir da era antiga até à
altura dos computadores.
A decifração destes arquivos poderia abrir descobertas interessantes sobre a
história do homem, a evolução espiritual, cultural e os desafios tecnológicos de
um período que durou cerca de dez mil anos. Ninguém, porém, na altura, era
dotado de um computador para decifrar aqueles arquivos. Ninguém sequer
sabia que tais instrumentos nunca tivessem existido, nem quais características
tivessem.
Um evento desconhecido tinha destruído grande parte dos recursos e da
vida no universo, cancelando os arquivos da inteligência humana. As
bibliotecas com livros de papel, assim como os milhares de milhões de dados
armazenados em memórias eletrônicas, tudo fora perdido. Depois da grande
catástrofe, novos homens tinham repovoado o planeta, aprendendo a usar
paus, a atirar eixos, a cultivar os campos, chegando a derreter os metais. A
pedra era pensada ser “o corpo dos deuses”, enquanto aqueles discos de
material transparente, que parecia eterno, ainda frágil, levavam consigo uma
mensagem do passado, mas cada vez mais ilegível.
O dromedário de Ahmed começou a decair. Assim mesmo seu mestre sentia
um fogo ardendo-lhe dentro. Ambos foram ficando mais fracos, perdendo o
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