Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 4ª edição | Page 11

LiteraLivre nº 4 A Duna Alberto Arecchi Pavia - Itália O sol deslumbrante brilhava queimando, no alto do céu. As camadas de ar flutuando sobre as areias quentes criavam miragens com mares inexistentes. Parecia mesmo que o solo e o ar que entrava nos pulmões ardessem, devorando com chamas inextinguíveis. Na base de uma alta duna, o pé do dromedário afundou em um buraco. O beduíno prorrompeu em uma saraivada de maldições. Se o seu deus tivesse ouvido, o teria incinerado no instante mesmo. O dromedário tinha a perna travada em uma fenda, abaixo da qual havia uma espécie de abismo. O homem procurou acalmá-lo, a fim de evitar que com os movimentos se causasse um dano maior. O dromedário estava sofrendo, emitindo altos bramidos. Mais se agitava, mais afundava. O homem começou com cuidado a alargar aquela espécie de mordaça. A areia escorria e andava perdendo-se em profundidade, formando um alargamento em forma de funil. Um sumidouro escuro, assustador. Finalmente, depois de muito trabalho, a abertura foi bastante grande para permitir o dromedário levantar a pata. Sangrando, despojado, ferido e dolorido, mas o osso tinha resistido. Prontamente, o beduíno urinou na ferida para desinfetá-la e sacudiu a pata em uma bandagem. A perna ferida exigia um par de dias de folga. O homem buscou um refúgio contra o sol escaldante, na base da duna. Em seguida, a curiosidade o fez voltar ao local do acidente, para perscrutar o abismo que se abrira. A areia tinha descoberto uma rocha de conglomerado que embrulhava varetas de ferro, como betão armado. Era uma espécie de um bunker subterrâneo. O tempo tinha enfraquecido o concreto, até causar a formação de lesões, que se alargaram, até ser a causa do tropeço do dromedário. O beduíno Ahmed percebeu que estava sobre um teto. Sob ele se abria uma sala, cheia parcialmente de areia e profunda uns três metros. Ahmed amarrou uma corda nos ferros, no lado da abertura. Fixou seu cinturão à outra extremidade da corda e saltou. Aterrissagem suave, na areia. Poucos minutos, para adaptar os olhos à escuridão. Estava em um local de forma de paralelepípedo, bem construído. A areia caindo não havia entulhado o 6