LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
Vir a ser Nathalia
Rafael Weiss Brandt
Tem uma relação na pele com a vida, da qual é amante. Verdade,
preciso admitir, é de vez em quando forçada a presentear um sorriso amarelo nas
pequenices de sua sociedade. Mas, segredo: nem precisava. A harmonia lhe é
natural – sorri baratinho, sem precisar parcelar. Como é baratinha também a
humanidade que também dela escorre nas fendas da rotina. Pouca coisa, nela,
não sai assim de bom grado.
Quietinha, fala muito, suspirando numa indecisão tão inerente a sua
personalidade – e daí suspiram junto os muitos homens que a ela desejam tal
qual bife a ser batido antes do cozimento. A ela nunca é muito aprazível ser
assim refeição corrida, pra matar a fome. As vezes deixa, mas se deixa. Não
deixa eles. Diferente. É que ela tem também muita fome. A principal delas: a
fome de fome. Homem nunca entende isso.
Dá pra ver, claríssimo, olhando aqui, que é emoção a regra de seu
colocar-se no mundo. Particularmente, há quem ache esse jeito doce de ser
pulsando só pueril. Há quem ache isto a encarnação empírica mesma da vida, de
beleza estonteante. Fico particularmente dividido, como a indecisão dela – será
isto reflexo da arte respirante que é Nathalia? É que se pulsa o sexo, pulsa o
universo, pulsa Nathalia, quem sou eu para, ególatra, não pulsar também?
A verdade é que Nathalia é apaixonante. É atriz, sempre foi, mas pensa
só que quer