LiteraLivre Vl. 4 - nº 19 – Jan./Fev. de 2020
Ela havia pisado na bola feio ao subestimar os menores, que agora se deram
conta de que, sem movimento, a partida simplesmente não acontecia e esse
seria o fim da terra dos tabuleiros.
— É uma rebelião! — Falou um dos adversários.
— Dará mal exemplo a todos os outros reinos... — Balançava a cabeça o
Cavalo Negro enquanto a Rainha Branca nada fazia a não ser gritar: —
Aceleraaaa!
Nada podia fazer pobre rainha, eles não se moveram nem uma casa se quer.
Ficaram ali, parados. Nem mesmo um Rei afogado seria o final daquela trágica
partida, a Rainha Negra lixava as unhas enquanto os peões perturbaram-se com
a audácia dos brancos ao desobedecer as ordens da soberana.
— O que vocês querem? —Por fim indagou Rainha Branca, depois de
perceber que nada, nem mesmo seus gritos, os fariam mover-se contra o
adversário.
— Sermos mais valorizados! — Disse o peãozinho de voz tímida a frente do
Rei.
O Rei por sua vez, franziu a fronte e olhou para a Rainha, que com um meio
sorriso compreendeu o que sucedia ali.
Ainda que os peões sejam considerados as peças mais fracas do tabuleiro,
nunca subestime o poder deles em combate. Pois numa batalha, todos são
responsáveis pela vitória: Desde aqueles que perdem as suas vidas, quanto
aqueles que permanecem de pé até o final vendo tombar o rei adversário. A
rainha Branca aprendeu ali uma lição importante:
Deveria tratar com respeito todos os seus súditos, não importa se eles
fossem torres ou peões, afinal, lutavam do mesmo lado. E deveriam obter os
mesmos reconhecimentos.
— E a partida? Como vai acabar? —Perguntou um espectador que aguardava
a liberação do tabuleiro, para o início do próximo jogo.
Todos se conservaram em silêncio, até o Rei, que só se deu conta da revolta
e dos desafetos da Rainha contra os Peões quando tudo se tornou evidente.
Quanto a mim, nada tenho a acrescentar, mas o que muda o jogo é quando
cada peça, por menor que seja, toma consciência do seu poder numa partida
decisiva.
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