LiteraLivre Vl. 4 - nº 19 – Jan./Fev. de 2020
é conhecido como daimonji (“dai” significando “grande”; enquanto
“monji” é
originado da palavra “moji”, que, por sua vez, significa “letra”).
O daimonji tem como principal objetivo dar as boas-vindas aos mortos.
Lendo assim, pode até assustar: parecendo que se trata de uma cerimônia para
receber as eventuais almas penadas ou zumbis que, naquela noite, resolvam dar
um passeio pela cidade. Mas o fato é que o daimonji, longe de ser uma
“invocação”, é apenas parte de uma cerimônia religiosa conhecida como Obon ―
com duração de três dias e dedicada a honrar a memória dos mortos. Cerimônia
esta que, vale frisar, tem um aspecto bem mais festivo que o nosso “dia de
finados”; uma vez que é da tradição japonesa celebrar (mais do que lamentar) a
partida de um ente querido.
Aliás, gosto muito desse talento do povo japonês em unir o fúnebre à
diversão. Um talento que é demonstrado até mesmo na hora de contar histórias
às crianças. Por exemplo: acompanhando, com o meu filho, todas as manhãs, os
programas infantis locais, pude verificar que as historinhas neles narradas
envolvem fantasmas (yurei), monstros e demônios (oni): todos apresentados em
um tom bastante divertido. É o caso do Akaname, um goblin que aparece para
aterrorizar os banheiros sujos, quando, na verdade, tudo o que ele deseja é
“lamber” (e, assim, limpar)... os vasos sanitários. Uma graça de assombração,
que acaba cativando até mesmo os adultos. Tanto que, este ano, terei o maior
prazer de passar o feriado do Obon assistindo, ao lado de meu pequeno, a esses
divertidos monstrinhos. Claro que, pela madrugada, também pretendo ver os
famosos filmes de terror japoneses, dos quais sou fã absoluto: e, assim, relaxar,
na companhia de Sadako, dos noticiários de política ― estes, sim, horripilantes!
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