LiteraLivre Vl. 4 - nº 19 – Jan./Fev. de 2020
dessa natureza primordial, que o homem estava tentando dominar com o
exercício de sua capacidade de conhecimento. Os magos conheciam bem o
pássaro-espelho, uma espécie de galináceo com plumagem que refletia a luz.
Essas aves eram parecidas, de longe, às bolas, cobertas com espelhos, que
refletem mil luzes, rodeando, nas boates modernas. Os sacerdotes usavam para
obter a luz até os confins mais profundos, no interior dos túneis profundos e
estreitos. Só assim eles poderiam pintar cenas nas cavernas escuras das
pirâmides. É claro que os sacerdotes egípcios não pensavam em tudo para criar
um quebra-cabeça para as gerações do futuro distante, porque eram quase
certos que ninguém teria violado os corredores secretos. Todas as suas energias
eram dirigidas exclusivamente ao mundo da vida após a morte. Come-pedras,
besouros, pássaros-espelho... O que você imaginava ser um estaleiro cheio de
escravos, trabalhando sob os chicotes de silvo feroz dos torturadores, acabava
por ser uma espécie de zoológico, um circo, em que a presença de homens era
limitada ao que hoje chamamos de "funções de controle ecológico". Mas, claro,
os homens observavam as estrelas, eles calculavam, estavam planejando a
estrutura maciça das pirâmides e todo o estaleiro. O estudo constante de magia e
alquimia permitiu o conhecimento dos sacerdotes-magos e um controle mais
preciso das potencialidades oferecidas pela natureza.
"Eu era o assistente de um feiticeiro que experimentava as palavras mágicas,
antes de patenteá-las. Aconteceu uma confusão. Um pequeno soluço no caminho
da humanidade, mas um assunto sério, para quem foi vítima.
Não faltavam os erros. Explosões, quedas indesejáveis... O laboratório
parecia uma zona de guerra. Como quando o feiticeiro levantou um armário cheio
de armas de bronze, mas ele tinha esquecido de fechar a porta. Você pode
imaginar o que aconteceu quando o guarda-roupa ficou inclinado e seu conteúdo
se espalhou por toda parte, com um estrondo que fez correr os guardas do faraó,
abalados.
Um dia meu chefe decidiu liquidar-me dessa maneira para não pagar meu
salário. Me fez encontrar em cima da mesa um belo besouro cor de turquesa,
bonito demais para eu saber refrear o desejo de levá-lo nas mãos. Eu apenas
toquei com o objeto sobre o meu coração. Assim eu encontrei-me paralisado e
exposto em um museu.
O besouro era o inseto mágico do Livro dos Mortos, um símbolo do sol
divino. Ele garantia para o falecido a petrificação do corpo e a vida eterna do
duplo, mas para mim, que ainda não tinha feito os meus dias, é quem se
transformou em um palavrão. O escaravelho de turquesa é uma garantia da
eterna juventude, mas transformou meu corpo em pedra. Meu mago está agora
reduzido a pó por milhares de anos, enquanto eu estou condenado a permanecer
para sempre, com a mente alerta, num corpo incorruptível. Desde alguns séculos
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