LiteraLivre Vl. 4 - nº 19 – Jan./Fev. de 2020
Alberto Arecchi
Pavia, Itália
A Múmia e o Besouro
Os antigos egípcios conheciam palavras mágicas, capazes de levantar pedras
enormes e fazê-las flutuar no ar, como balões jogados pelas crianças. Assim,
então, eles teriam feito as pirâmides. Os magos levantavam as pedras e os
pedreiros as trabalhavam no ar, com cinzéis; as faziam girar para controlar o
processo e as deslocavam em um drible rápido. Finalmente, um equipe especial
arranjava as pedras as umas em cima das outras, tais como latas de tomate nos
estantes de um supermercado.
Outro método recorria ao trabalho dos roedores “come-pedras”, animais
pequenos de uma espécie agora extinta, que ajudaram enormemente os antigos
construtores para erguer as suas maravilhas, obras que desafiaram todos os
prejuízos do passar do tempo. Os come-pedras eram animais semelhantes aos
tamanduás, com o tamanho de um cachorro, com pêlo felpudo e curto de cor
ocre, como a areia. Na verdade, eles viviam originalmente no deserto, onde não
havia muita comida, e haviam-se especializado em roer a areia e fragmentos de
pedra calcária, para fortalecer o seu corpo, através de uma transformação
alquímica complexa. Os sacerdotes e os arquitetos conseguiram domá-los.
Trouxeram-nos em grandes recintos, junto aos templos, e empregaram-nos na
construção de pirâmides gigantes. Os animais eram levados para as pedreiras,
onde eles se alimentavam com todos os fragmentos, os restos de estátuas e
colunas, seixos e areia, que foram espalhados aqui e ali. Em seguida, os
arquitetos transportavam os come-pedras até à pirâmide. A construção das
pirâmides, que nossos historiadores imaginam freneticamente animada pelos
escravos, trabalhando no transporte de blocos gigantescos, era realmente um
formigamento de animais que depositavam suas fezes. Os especialistas em
arqueologia acham que fossem suficientes os excrementos de poucas centenas
de come-pedras para construir, em um único dia, dois ou três gigantescos blocos
de conglomerado calcário. Como você pode imaginar, os estaleiros das pirâmides
estavam cheios também de uma inumerável quantidade de besouros, subindo e
descendo as encostas, rolando em continuação bolas de massa calcário.
O segredo dos come-pedras ficou bem cuidado, ninguém podia revelar, sob
pena de morte... Era proibido descrever o animal precioso, você não poderia
mesmo nomeá-lo. Sua existência era monopólio absoluto da casta dos magos e
sacerdotes, que estavam segurando firmemente seus segredos. É por isso que
nenhum de vocês, hoje, sabe nada disso. Estes não foram, no entanto, os únicos
segredos mantidos pelos sacerdotes-magos. Não eram as únicas esquisitices
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