Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 64

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 O vigia então começa a se preocupar ainda mais com o ar insólito daquilo. O estado doentio do guarda anterior parecia ter se manifestado em alguma obsessão pelo histórico tétrico do bairro. O clima sombrio e nebuloso daquela área parecia tê-lo prejudicado de tal forma que precisou se retirar. Os livros contidos na mala eram ainda mais curiosos. Uma bíblia e um caderno antigo, de capa dura e desgastada, onde conseguia-se ler apenas A última hora, em baixo-relevo. Em seu interior, as páginas amareladas estavam em branco, exceto por alguns versos, escritos à mão, na última página.. Lenta, lenta hora. Em tudo ecoa Alma que se ignora Tudo é tão doente Um pesadelo que se sente De si próprio ausente E ainda ela bate à porta Lenta, lenta Hora morta Que haja piedade Bruma e ocaso que invade Hora vazia e sem vida E sombria e perdida Em agonia que não se conforta Lenta, lenta Hora morta. O sino do relógio então o retirou do estado absorto em que ficou após examinar o conteúdo da mala. Onze horas. Deveria se preparar para ir embora. No entanto, confuso sobre o que pensar daquilo, decide ficar mais um tempo. Esperar ali até pelo menos o próximo guarda rendê-lo. De fato, havia ficado um tanto atarantado pelo material. Repentinamente o peso de estar ali, no quarto no meio do vazio, do lugar rejeitado e disjunto de tudo, o assombrou. O guarda anterior [61]