Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 43

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Eu não tenho certeza se quero escutar a resposta. Permaneço mesmo assim. — Isso é um pedido de desculpas? Quando ele diz isso, subo o olhar para encará-lo e dou de ombros. — Você só não quer admitir... — declarou, abrindo um sorriso de relance. — Que seja. — O que você está fazendo aqui? — Vim para ver uma menina da minha escola, só que ela não apareceu — faço o maior esforço para não parecer simpático. Presto um pouco mais de atenção nele. Pelo jeito que se portava, parece ter saído de um clipe de música indie onde um grupo de amigos passa a noite escondido num beco de Londres, bebendo e se divertindo. Quando se julga meramente pela aparência, uma sinfonia erudita podia estar muito bem descrevendo sua beleza. Tem as sobrancelhas bem feitas, que permitem que os olhos roubem toda a atenção; os cabelos são curtos, desgrenhados e dão a impressão de serem constantemente lavados. — Sinto muito — ele respondeu, sua voz rouca rasgando a garganta. — Na verdade, é até melhor assim. Não queria muito encontrar com ela. — Por que veio, então? — É uma ótima pergunta. Talvez, de fato, eu tenha achado um "amigo" (ou o equivalente possível para mim). No restante da festa, eu estou com ele. Bebo mais algumas doses de vodka. Fumo mais alguns (muitos) cigarros. Converso sobre música, filmes, e outras amenidades — tento evitar ser muito pessoal, e espero que isso realmente aconteça. Passo muito mais tempo na balada do que eu costumo passar: só saio quando amanhece. Despeço-me do homem e volto pra minha casa, pro meu quarto. Não escuto barulho nenhum em casa, o que significa que meus pais ainda não acordaram ou já saíram. Jogo as carteiras vazias (fumei uma e meia, ou duas) no lixo, vomito na pia e contemplo o sol pela janela vazia. Fazia tempo que eu não admirava verdadeiramente alguma coisa. Tomo uma ducha, visto uma roupa e saio de casa com meu fone de ouvido na mão. Vou atr [40]