LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Cacyo Nunes
Gravataí/RS
Da Fidelidade Comercial
Veja você, a ideia que aqui venho por trazer, o conceito tão nobre que se faz
tão necessário em tempos de grave crise moral do ser humano, é o quanto a
fidelidade comercial é um valor nobre e belo, o quanto as pessoas deviam
respeitá-lo, e o quão pouco elas o respeitam. É algo maravilhoso quando uma
pessoa e um estabelecimento amam-se e respeitam se mutuamente, nunca
falhando um ao outro na milenar troca de valioso dinheiro por excelentes
produtos, um dando ao outro aquilo que o outro mais quer e ambos tendo seus
desejos realizados. E é algo horrível quando alguém troca o estabelecimento que
o serviu tão bem e por tanto tempo por algum concorrente qualquer, privando de
dinheiro alguém que é fiel a você e dando tal dinheiro a um incompetente indigno
de confiança ou fidelidade, que irá lhe dar um produto pior por um preço mais
alto. Nessa segunda situação, todos saem perdendo, exceto um qualquer-um
ignorante. Usarei o meu cotidiano e os lugares que frequento como exemplos do
que fazer ou não quanto à fidelidade comercial.
O melhor exemplo de fidelidade comercial que posso dar é a locadora de
DVDs na minha rua, uma das últimas do universo. E eu sou uma das últimas
pessoas do universo que alugam filmes ao invés de assisti-los de graça na
internet. Por causa da fidelidade comercial. Sou tão fiel ao lugar quanto ele é a
mim, jamais falhando em ir lá alugar um filme sempre que posso, assim como a
tal locadora nunca me falha em me conseguir o filme que quero. Ambos saímos
ganhando com nossa fidelidade mútua, provando o quão belo tal valor pode ser.
É verdade que, vez que outra, meus amigos ou família me forçam a trair a
locadora, me arrastando para cinemas, mas, nesses casos, ponho a culpa toda
neles, por me forçarem a algo tão desonroso.
É claro que um pouco de infidelidade é necessária, às vezes. Vide minha
clínica médica: está tão cheia de profissionais e equipamentos quanto alguém
que só quer o meu melhor, mas ela mesma reconhece que ninguém é capaz de
tudo. E, quando surge a necessidade de eu ter algo a mais, ela me permite um
pouco de infidelidade. Se morde de ciúmes, mas permite. A dentista particular, a
clínica de ressonância, a psicóloga que trabalha sozinha... minha clínica entende
que não sou eu quem escolhe essas coisas: alguns eventuais casos de
infidelidade são necessários para um homem, escolhas feitas por nosso corpo e
não por nossa mente, e o que eu mais quero é que tais casos passem a não mais
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