Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 44

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Cacyo Nunes Gravataí/RS Da Fidelidade Comercial Veja você, a ideia que aqui venho por trazer, o conceito tão nobre que se faz tão necessário em tempos de grave crise moral do ser humano, é o quanto a fidelidade comercial é um valor nobre e belo, o quanto as pessoas deviam respeitá-lo, e o quão pouco elas o respeitam. É algo maravilhoso quando uma pessoa e um estabelecimento amam-se e respeitam se mutuamente, nunca falhando um ao outro na milenar troca de valioso dinheiro por excelentes produtos, um dando ao outro aquilo que o outro mais quer e ambos tendo seus desejos realizados. E é algo horrível quando alguém troca o estabelecimento que o serviu tão bem e por tanto tempo por algum concorrente qualquer, privando de dinheiro alguém que é fiel a você e dando tal dinheiro a um incompetente indigno de confiança ou fidelidade, que irá lhe dar um produto pior por um preço mais alto. Nessa segunda situação, todos saem perdendo, exceto um qualquer-um ignorante. Usarei o meu cotidiano e os lugares que frequento como exemplos do que fazer ou não quanto à fidelidade comercial. O melhor exemplo de fidelidade comercial que posso dar é a locadora de DVDs na minha rua, uma das últimas do universo. E eu sou uma das últimas pessoas do universo que alugam filmes ao invés de assisti-los de graça na internet. Por causa da fidelidade comercial. Sou tão fiel ao lugar quanto ele é a mim, jamais falhando em ir lá alugar um filme sempre que posso, assim como a tal locadora nunca me falha em me conseguir o filme que quero. Ambos saímos ganhando com nossa fidelidade mútua, provando o quão belo tal valor pode ser. É verdade que, vez que outra, meus amigos ou família me forçam a trair a locadora, me arrastando para cinemas, mas, nesses casos, ponho a culpa toda neles, por me forçarem a algo tão desonroso. É claro que um pouco de infidelidade é necessária, às vezes. Vide minha clínica médica: está tão cheia de profissionais e equipamentos quanto alguém que só quer o meu melhor, mas ela mesma reconhece que ninguém é capaz de tudo. E, quando surge a necessidade de eu ter algo a mais, ela me permite um pouco de infidelidade. Se morde de ciúmes, mas permite. A dentista particular, a clínica de ressonância, a psicóloga que trabalha sozinha... minha clínica entende que não sou eu quem escolhe essas coisas: alguns eventuais casos de infidelidade são necessários para um homem, escolhas feitas por nosso corpo e não por nossa mente, e o que eu mais quero é que tais casos passem a não mais [41]