Revista LiteraLivre 17ª edição | Page 23

LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019 do nada, apareceu-lhe uma linda mulher. Não era a que as histórias da infância lhe tinham feito imaginar. Ela era uma mulher rechonchuda, com longos cabelos ruivos, cobertos com algas, e os olhos brilhando. Bela e sedutora, vestida com um véu branco cintilante. O belo rosto brilhava nos últimos raios do sol. José reconheceu o cabelo vermelho, flamejante, que descia ondulando até cobrir os ombros e quadris. Ele achou que a menina se parecia com Helena, uma menina da qual tinha sido profundamente namorado. Mas a menina tinha morrido durante o inverno, por causa de uma meningite fulminante. A aparição se agarrou a um galho de árvore para se levantar, com um esforço, e dirigiu sua mão direita em direção a ele, com um gesto sedutor, convidando-o, para que se aproximasse dela. “Meu cabelo ficou em pé. O coração batendo no meu peito como um louco tambor. Fiquei paralisado por um terror mortal. Ela não sorria mais, mas me convidou para ir direto para ela, com tons suaves”. Assim contou José aos amigos, dias depois. José estava prestes a ceder à atração e tocar a sua mão, mas desviou os olhos por um momento e se lembrou de todas as histórias que os temores dos idosos tinham-lhe inculcado desde a infância. Seu cabelo ficou em pé, o coração batendo no peito como um louco tambor. Era mesmo a bruxa terrível. O jovem ficou paralisado [20] por um terror mortal. Ela não sorria mais, mas pedia-lhe para que se aproximasse, com tons suaves. “Eu não sabia o que fazer, queria pedir a Deus para me proteger de ela, de Satanás e todos os demônios, mas as palavras não saíam da minha garganta engasgada”. – José – ela suplicava, – não me reconheces? Não te lembras de mim? Eu sou Helena! Ajuda-me, por favor, me dê sua mão. – José conseguiu reduzir a mão ao cinto para segurar a faca. A cara da aparição ia então se deformando em um sorriso horrível. José foi capaz de segurar a alça da faca. O rosto da mulher tinha-se transformado em uma máscara hedionda, distorcida pela raiva. Ela afastou-se da árvore. “Avançava na minha direção, andando desajeitadamente. Então vi seus pés, até então disfarçados pelo vestido. Eram semelhantes à cauda de um grande peixe, por isso faziam-na avançar tão desajeitada. Tentou agarrar-me, mas eu prontamente me atirei para o chão e plantei o punhal no solo. Então gritou de dor, como se eu estivesse ferindo-a de morte: – José, José, assim irás matar-me! – Eu ficava desesperadamente agarrado à faca, aterrorizado, os olhos fechados, para não ver a criatura vil que se contorcia e gritava furiosamente. Senti sobre a minha cabeça sua respiração horrível, como o silvo das víboras. Ela me implorava: – José,