Revista LiteraLivre 17ª edição | Page 22

LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019 Alberto Arecchi Pavia (Itália) A dona do rio, A bruxa de cabelo vermelho A juventude do país sentia um arrepio quando a gente falava da terrível bruxa do rio, uma criatura sedutora que se parecia com uma mulher, com charme irresistível, o cabelo, vermelho como fogo, caindo sobre os ombros brancos. Ai de ser seduzido por ela. Quem lhe sucumbia ficaria possesso. Ela o arrastaria para a sua casa, no fundo das águas, e não voltaria nunca mais. Portanto, não havia nenhum jovem que ousaria sair sozinho à noite, exceto em casos de extrema necessidade. Quantos homens jovens tinham desaparecido! Imprudentes, haviam saído sozinhos à noite e, com certeza, tinham encontrado a mulher fatal, que os trouxera consigo para o reino das sombras, do qual não há retorno. Poucos afortunados escaparam e voltaram, para contar do encontro temido. Alguns sobreviventes, no entanto, não tinham resistido ao terror e haviam enlouquecido. Um dia, à tarde, um homem jovem estava descansando em cima de uma colina, bem longe da corrente de água. José, o jovem caçador, conhecia bem as tradições da sua gente, que tinha ouvido na infância pelos lábios de sua avó. [19] Cansado após um longo dia, passado com o seu cão, a vagar em busca de lebres e coelhos, ele estava descansando à sombra de uma árvore de grande porte, no terraço com vista para uma curva do rio, conhecida como “a curva das garças”, mas bem no alto, para ficar longe da corrente de água. Gatos pretos escondidos nas sombras, caçando suas presas. O sol estava afundando e acendia as águas. As sombras iam crescendo, compridas e escuras. Somente a água aparecia vermelha e brilhante, enquanto o resto do mundo ficava reduzido a linha pura e silhueta preta. As formas elegantes dos pernaltas em contraluz, nas vagas suaves, se moviam de repente, levando peixes em seus bicos. O José, orgulhoso de viver e cheio de energia, mascando uma folha de grama, olhava para as sombras do pôr do sol, sentindo-se flutuar como uma folha, separada de seu ramo, caída na água. Seu espírito pairava nas vagas líquidas, brilhantes como metal fundido, num redemoinho cada vez mais profundo. De repente,