LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
Ela olhou o relógio, antecipando a despedida. Fitou o olhar de Mário, que não
sabia se resignado ou sofrente; o homem que amara era uma incógnita.
— Feliz ano novo, meu amor! — ele disse, com um sarcasmo no sorriso.
Abraçou-a mais uma vez. De início, suavemente, depois imprimindo força,
até deixá-la comprimida, em seus braços. Incomodada, ela tentou desvencilhar-
se. Ia protestar, mas ele a calou com um súbito beijo. Parecia que a sequência de
seus movimentos fora programada. Na primeira oportunidade, ela gritou: Você
está louco? Trazia pânico implícito na voz e no corpo trêmulo. Não sabia se fizera
uma pergunta ou uma acusação, mas ao sentir sua respiração de volta, teve a
sensação de ressuscitar; apenas não imaginou quão rápido seria o próximo
movimento de Mário.
Ele a empurrou, como quem empurra uma pluma ao vento. Lá embaixo havia
apenas um mar de um intenso azul. O grito de Lisa rompeu com o silêncio
daquela manhã, apenas cortado pela rebentação das águas contra o quebra-mar.
— Adeus, meu amor! Tudo podia ter sido tão diferente...
Mário acendeu outro cigarro e começou a fazer o caminho de volta, olhando-
a pelas frestas de madeira da ponte. Ela debatia-se contra as águas e pedia-lhe o
último socorro. Lisa não sabia nadar.
Era inacreditável a indiferença dele, até dar-se conta de que ela usava seu
suéter azul.
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