LiteraLivre Vl. 3 - nº 14 – Mar./Abr. de 2019
A voz
Ivo Aparecido Franco
São Bernardo do Campo/SP
Ouço uma voz, me viro: não há ninguém
É só a intrusa voz do além
Me procurando, a despeito da ausência
Das vibráteis cordas vocais
E também das ondas sonoras
Deseja a qualquer custo me consultar
Tal emanação inaudita
Quando tinha língua e também vida
Passou por aqui ignorada, despercebida
Pode ser que esse lamento dissonante
Feito errático retirante
Esteja apenas distorcendo o frágil espaço-tempo
Da inexpugnável impossibilidade
Hoje, feito indesejável mosca
Essa inoportuna invasora
Com seus sussurros anormais
Tenta invadir meus centros cerebrais
Compreender a mensagem velada
Dessa pobre alma penada
Resgataria meu ser do nada, da finitude
E da desencarnação
O sussurro é ininteligível, incomunicável
Talvez pela estranha incompatibilidade
Entre a minha e a sua dimensão
Quem sabe esse cochicho anômalo
Perdido feito animal sem dono
Não vem de tão longe assim quanto se
Crê
Pode ser só infelicidade
Advinda das reprimidas animalidades
Do subterrâneo inacessível do meu ser!
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