LiteraLivre Vl. 3 - nº 14 – Mar./Abr. de 2019
Abraço de vovó
Rejane Aquino
Feira de Santana/BA
Para Elvira e Izaltina de Aquino
Como desvencilhar seus olhos do poema?
Sua presença grita no cheiro
do seu abraço e me conduz
à direções de segurança, saudade
e abrigo.
Poesia é nosso elo.
Esconder sua presença do meu abraço
é me enterrar como germe,
aboletar-me em um corpo
de desespero.
Seus olhos são os seus gritos
por onde há canto
e o mais profundo abrigo.
Seu olhar não é efêmero,
é corpo fechado,
tatuagem no peito.
O verbo, feito de sopro
(e carne)
se esvai em cada gesto.
Avós, no entanto, são nuvens
de algodão-doce,
tecendo no tempo
bençãos, silêncios
e saudades.
Me viro, reverso e me rasgo.
Não há como desvencilhar os seus olhos do poema .
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