LiteraLivre Vl. 3 - nº 14 – Mar./Abr. de 2019
lamentável, estava justificado. Bandido bom é bandido morto, dizem eles.
Felizmente não me enquadro no perfil dessa gente “de bem”. Humanista que sou,
acredito que toda vida humana é sagrada. Durante os dias seguintes, sempre
que passava por aquele local, meu olhar inevitavelmente era atraído pela pústula
de sangue no chão. A lembrança de que um ser humano havia sido executado alí
me perturbava. Aquela negra nódoa lá estava para me lembrar que violência e
morte são assuntos mais próximos do que gostaríamos. São realidades
inconvenientes a nos lembrar nossa humana condição.
Passavam-se as semanas e ela lá permanecia, teimosa, embora um pouco
menos nítida agora. Já se tornara imperceptível para a maioria dos passantes,
mas para mim era o suficiente para lembrar que aquele borrão era a testemunha
de um homicídio. Felizmente na segunda quinzena de Julho os ventos alísios
trouxeram a tão aguardada frente fria e a chuva caiu, forte, dissolvendo a
mancha, purificando a terra, aplacando a sede das plantas, levando consigo a
lembrança do rapaz assassinado.
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