LiteraLivre Vl. 3 - nº 14 – Mar./Abr. de 2019
— Diga-me uma coisa: isso é legal? É que estou a ver que, se alguma coisa
correr mal, posso ser preso e julgado, acusado de me tornar cúmplice de
destruições e matanças, de crimes contra a Humanidade, não?
— Ó senhor Fontoura, eu nem estou a acreditar no que estou a ouvir —
impacientava-se o gestor. — O senhor desculpe, mas já viu algum vencedor ser
julgado? Nós estamos do lado dos vencedores, senhor Fontoura! Agora, e por
muito tempo. Mais depressa condenam algum negociador de paz do que simples
acionistas que apenas querem aplicar honradamente algumas poupanças que
conseguiram com o seu trabalho. Não é o senhor que vai lá dar tiros, nem
empurrar refugiados para os barcos da morte…
— Está bem, está bem! — contemporizava Fontoura, derrotado. — Líria… A
Líria até parecia um país sossegado. Cheguei a passar por lá, em férias. Tinham
as suas manias, como os outros, mas nada fazia prever isto. De repente, aquele
obus na escola… E o governo a dizer que tinham sido os rebeldes, e eles a acusar
o governo...
— Não fui eu que disse, mas com certeza que às vezes é preciso dar um
empurrãozinho... Repare, os outros conflitos estiveram um bocado parados e
assim ninguém ganha dinheiro. Felizmente, parece que as coisas estão a
“melhorar” na Líbia. No Iraque, então…; as ações estão outra vez a subir em
flecha. Aliás, se o senhor Fontoura não quiser investir na Guerra da Líria, compre
Iraque. Estou convencido de que ainda vão subir muito mais.
— Não, não; pode ser Líria. Gostava do país, gostava do povo. É pena irem
partir aquilo tudo. Paciência!
http://vislumbresdamusa.blogspot.pt/
21