LiteraLivre Vl. 3 - nº 14 – Mar./Abr. de 2019
A Chama
António Carlos Simão
Lisboa – Portugal
Então agora é que vens,
identificar o corpo pelos dentes
depois de queimado.
Reclamar os anéis de latão,
Que ficaram perdidos pelos dedos,
à espera de serem oferecidos.
Não foram suficientes para ti
todas aquelas combustões
que acordavam vizinhos a meio da noite.
Ainda não perdeste o vício
de brincar aos testamentos,
às palavras entregues
para sempre à luz da lei.
Foste sempre adepta do fogo posto com extintor à mão
e tinhas o dom de ler o passado
nas cinzas que sopravas às escondidas,
pelas redes sociais.
Em busca de amantes
com tiques nervosos no polegar direito
e cangalheiros amadores.
Acaso vos acabem os temas de conversa,
e o silêncio se torne demasiado incómodo,
não te esqueças de lhe contar
como é que ganhaste esse cheiro a chocolate branco,
derretido à luz das velas
entre o teu corpo e o meu.
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