LiteraLivre Vl. 3 - nº 14 – Mar./Abr. de 2019
Talvez faça sentido, então, o sol sobre a cerca. Havia algum significado obscuro
em mirar aquele inerte séquito de lenha.
Ali. A pequena e baixa cerca separava as duas figuras com o vulto de uma
muralha. De um lado o homem desatento para aquele olhar em direção ao seu
espaldar, de outro um sentimento quase gritando o carinho inseguro. O receio
angustiado da moça lhe afogava o peito e lágrimas lhe lavavam até o pescoço.
Havia algo ali, ou houve, ou haverá.
Ela levanta as anáguas do vestido, exibe as pernas quase trêmulas e apoia um
dos pés sobre uma ripa do cercado.
De ali em diante, o cercado perdeu sua importância. Perdeu a grandeza que
separava diante de um simples passo adiante.
Talvez, vencido o meio metro de altura do madeiro, haveria algo mais a adolescer
ali para arrancar a estreiteza no peito da jovem moça e, então, a cerca dividiria
apenas um fim e um começo.
Virando uma nova página do livro, o homem se depara com o esboço de um
cercado branco, como o que existia ali próximo, e que finalmente o faz se
desapegar da leitura e dirigir-lhe o olhar e, assim, perceber alguém vindo em seu
encontro. Os olhos antes fascinados com a leitura agora rebrilham contemplando
outro afeto enquanto escorre um sorriso para os lábios.
Atenta, a luz do sol começa a se mover, se ajustando para iluminar uma nova
preciosidade. Algo além da cerca que logo se tornaria mais formidável ali…
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