LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
Novas partes surgem e eu não aceito. Tem um sinal novo na minha bochecha
direita que faz do espelho estranho. Eu não to conseguindo aceitar a vida após a
morte. Mas não morreu ninguém.
Só que tudo virou passado, nostalgia, ausência. Tudo morto de agora. Mataram a
Marielle. Quatro tiros só na cabeça. A cidade esteve de luto.
Eu ainda estou.
Será que eu não me torno meus lutos pra sempre?! Ninguém morreu. Novos
espaços nascem no meu corpo. Buracos, crateras, vias, becos, vielas. Meu corpo
está exposto. Sigo na livraria o amigo não chega. Talvez não chegue. Talvez
tenha morrido. Talvez eu esteja morta. Vejo o meu corpo estirado no chão.
Ninguém morreu.
Mas ninguém morreu.
Mataram a...
Matam a...
Senhores usuários é proibido dançar no interior da composição. Diz o metrô no
Rio de Janeiro. É proibido dançar.
As pessoas estão morrendo.
Mas ninguém morreu e a vida segue. Eu não sou o Pai
da
Menina
Morta
Eu tenho que...
Ninguém morreu. Há novos espaços desabitados no meu corpo. Meu amigo não
chega. Eu poderia estar morta. Mas ninguém morreu. Não há fatos. Um luto só
pode durar seis meses.
Ninguém morreu.
Todo mundo morto!
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