LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
Noite de Consoada
Jeracina Gonçalves
Barcelos, Braga, Portugal
Sobre a toalha da mesa, nesta Noite de Consoada,
Espalho as pétalas secas das rosas que tive na mão.
Seu aroma amarfanhado traz-me dos tempos d’então
A azáfama da cozinha nesses tempos que já não são.
Os bolinhos de “calondro”, que fritava às colheradas
A aletria, o leite-creme, as farófias e as rabanadas.
O bolo-rei era o rei nesses tempos abençoados
Quando era fácil o riso soltado às gargalhadas
A seguir pela noite dentro, ao ritmo do coração.
Meus olhos alagam-se no mel que mana do meu coração!
E o meu olhar orvalhado recua mais no passado:
Farófias, aletria, leite-creme, rabanadas…
E os bolinhos de “calondro,” de que eu tanto gostava.
Com a salsa fresca da horta, os bolinhos de bacalhau
Eram também um petisco que meu pai não dispensava
Nessa noite fria e santa - a Noite de Consoada.
Temperada com hortelã, a açorda de bacalhau
Muito fina e rarefeita, ao cozido dava entrada,
Nessa noite santa e fria - a Noite de Consoada.
Rapa, tira, deixa, põe, entre risos gargalhados
e cantares ao Deus-Menino
Amêndoas e confeitos passavam de mão em mão
Até que o sono chegava, rapa/tira…, par/pernão
Nessa noite santa e fria era passado o serão
Sem presentes na chaminé, na bota ou no sapatinho…
Não havia Pai Natal nem presentes do Menino.
Havia muita alegria, muitos contos e cantares
Nessa noite santa e fria, a Noite do Deus/Menino,
Noite de grande alegria e muito amor no coração!
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