Revista LiteraLivre 13ª edição | Page 91

LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019 começou agradável, em meio à algazarra de dezenas de meninos e meninas de todas as idades. Ao entardecer, o vento mudou de direção e as outras crianças foram chamadas pelos pais ou babás para vestir um agasalho a mais, um cachecol, luvas. Max olhou em volta, mas não achou a mãe. Continuou, mesmo assim, a brincar e correr enquanto a temperatura caia rapidamente. Depois de mais de uma hora no vento frio, o menino sentiu as mãos geladas. Olhou de novo em volta, inutilmente. Os outros se foram pouco a pouco, restando apenas dois outros meninos, bem agasalhados. O pai destes perguntou a Max se não estava com frio. Ele fez que não, mas tiritava. Sua pele já estava ficando azulada e as mãos enregeladas. O homem, preocupado, perguntou-lhe o nome de sua mãe e começou a chamá- la, gritando em todas as direções, até que Peggy surgiu corada, resfolegante, acompanhada à distância por um jovem ressabiado que logo se afastou. Ela correu para o filho e abraçou-o. Max não dizia nada. O pai dos outros meninos chamou atenção para as mãos da criança, pálidas, com um tom azulado na ponta dos dedos. Peggy aqueceu-as como pode e levou o menino embora. Max ficou no hospital por dois dias. Apareceram bolhas em seus dedos. Ele não chorou. Só perguntava se seus dedos iam cair, tal qual aquele mendigo que não tinha dedos nas mãos ou nos pés e morava de favor nos fundos da igreja. O pai e os irmãos mais velhos garantiam que não, evitando trair preocupação. O caçula teve de voltar com frequência ao hospital por várias semanas, para que os médicos examinassem suas mãos, tratassem das bolhas, administrassem medicamentos. Perdeu o tato nas pontas dos dedos de sua mão direita e passou a sofrer dores que jamais o abandonaram. Sua mãe, ainda antes do filho ter alta, começou a tricotar luvas. Fez um par para cada membro da família. Depois, continuou a fazer luvas coloridas para crianças. Em pouco tempo encheu dois cestos e levou-os à igreja, onde pediu ao pastor que as distribuísse sem jamais revelar quem as fizera. O pastor, agradecido, prometeu que o segredo seria respeitado. Daí em diante a “Santa do Inverno”, como era chamada, passou a doar anonimamente cestos e cestos daqueles objetos. Ao voltarem do colégio no meio da tarde, a filha tinha de lavar a roupa e cozinhar, enquanto Richie arrumava a casa. Quando o pai chegava do trabalho, impressionava-se com o cansaço dos filhos mais velhos e o silêncio do caçula. Tentou, várias vezes, convencer a esposa de que Richie e a irmã precisavam se dedicar mais aos estudos, mas ela respondia secamente que tinha de fazer mais luvas, pois as crianças pobres passavam frio e ela tinha que ajudá-las. Max a tudo observava, inexpressivo. Não se interessava por amigos, falava pouco e 87