LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
Luvas de tricô
Rafael Linden
Rio de Janeiro/RJ
Max soube da morte da mãe por um lacônico telegrama do irmão mais velho
Richie. Caminhou pelo jardim de sua casa, num subúrbio de Dortmund, e
esforçou-se para verter uma lágrima. Ainda não, quem sabe um dia. Desde que
deixara os Estados Unidos, há trinta anos, ele praticamente cortara os laços com
sua família.
Richie permanecera a vida toda na cidade natal, Houlton, enquanto a irmã do
meio morava em outra cidade próxima. Max trocava com eles apenas cartões de
Natal. Às vezes Richie adicionava alguma notícia sobre a saúde dos pais, que
residiam perto dele em uma casa de repouso desde que o pai sofrera um
derrame, há onze anos. Peggy, a mãe, limitava-se a tricotar. Todos os dias, o dia
inteiro, há décadas. Não tinha tempo para o marido inválido que, no entanto, era
bem cuidado pela equipe do asilo.
Situada no Maine, um dos estados mais frios dos Estados Unidos, a cidade de
Houlton passa boa parte do ano com temperaturas abaixo de zero e até mesmo
em pleno verão há dias gélidos. Peggy dedicara os últimos quarenta e sete anos
a fazer milhares de luvas, gorros e cachecóis para as desafortunadas crianças
que dependiam da caridade alheia para se aquecer.
O passado de Max se apagara, exceto por uma tarde de setembro que ele
trazia bem viva na memória. Tinha cinco anos de idade. Naquele dia, como
faziam com frequência depois do almoço, Peggy levou o filho pequeno para
brincar no amplo parque comunitário. O verão estava no fim e a tarde de Max
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