LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
Irene
Ernesto Gomes
Santa Rita do Sapucaí/MG
Irene amamentou branco e preto,
Criou ioiô e moleque:
Deu bofetada em um, pontapé, em outro.
Foi dona de quindins do mais fino açucareiro.
Irene sobreviveu, Irene lutou e Irene amou.
Obrigou-a o senhor a alisar o membrum virile,
Muitas vezes fez deitado na rede ou no chão:
Irene gostou, Irene odiou e Irene apanhou.
Linda, sempre sorrindo, não por desejo;
Mas pela comodidade.
Irene mulher, Irene camaleoa e Irene apenas.
Sífilis contraiu na lactação.
Presos as suas costas, muitos esgarçaram as perninhas.
Irene mãe, Irene companheira e Irene doente.
O padre chamou por Nossa Senhora,
Esta, lá de cima, respondeu:
- Posso descer agora não.
De chá e unguento, cuidou-se.
Irene ferida, Irene caída e Irene acamada.
Sinhô, da capital, mandou trazer doutor:
Nada adiantou, diz que a orgia a levou.
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