LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
frente. Lembro-me de me perder na sua conversa; de como você mexia os olhos
e gesticulava enquanto falava, o modo como você pausava entre as falas. A sua
história sendo unida a minha pelo toque das suas palavras - que eram como mú-
sica aos meus ouvidos atentos.
Soube que a recíproca era verdadeira quando na mesma porção lhe apresentei a
minha versão de vida, sem muita expectativa é claro, já que eu não tinha tanto
assim para contar. Não demorou muito até que demos o nosso primeiro beijo,
este que selaria nossa união para sempre. Repousado em seus braços firmes, me
aproximei, pensei que fosse desabar de tanto nervosismo, as pernas tremiam e
eu sabia que não iria conseguir disfarçar, você percebeu, lembra?
Gentilmente você se aproximou, com todo o seu charme avassalador, o seu per-
fume penetrava nas minhas narinas com calma e delicadeza.
- Posso? - perguntou-me demonstrando certa ansiedade. Respondi encostando
serenamente meus lábios nos seus. A principio me dediquei a sentir o sabor de-
les, permanecendo na mesma posição por alguns segundos: em seguida me vi
perdidamente envolvido enquanto lhe beijava sem querer parar.
Desde aquele dia, nos apaixonamos de uma forma muito especial. A nossa histó-
ria vinha se tornando sólida e agradável enquanto ao nosso próprio ritmo a tecía-
mos. Nossos momentos juntos eram perfeitos e nunca o suficiente; nossas almas
ansiavam por estarem juntas e quando estávamos um do lado do outro, o amor
pairava sobre as nossas cabeças. A presença do outro acalentava-nos, emanava
a nossa ansiedade.
Muitos meses transcorreram-se depois disso até que o destino com suas demên-
cias inexplicáveis resolvera agir e por fim nos separar. E eu, por um lado, senti o
mundo desabar debaixo dos meus pés quando rompemos, a dor chegou no meu
coração com rigidez, e pela primeira vez na vida precisei enfrentar o sentimento
de perda sem saber lidar com ele. Talvez se fossemos mais maduros teríamos
nos reiterado de outra forma, mas isso não aconteceu.
O sofrimento viera a tona, me consumindo em demasia, algumas vezes chegava
a ser sufocante, ardia dentro do peito, roubando-me o ar. Eu me sentia vazio, a
sua falta por pouco faltava de destruir, seria fruto da inocência e maturidade -
me perguntei diversas vezes enquanto lutava para respirar. Que amor era esse?
eu me inquiria dia a dia enquanto labutava para aceitar a nossa separação preco-
ce, já que um dia ingenuamente imaginei que ficaríamos juntos perpetuamente.
Alguns anos se passaram depois do nosso rompimento, três anos para ser exato.
Durante um encontro de amigos estávamos ali, um de frente ao outro. Neste pra-
zo tivemos alguns encontros ocasionais, porém nada que tivesse muita represen-
tação. Mas neste dia em especifico, senti uma coisa diferente de tudo. Enquanto
observava você falar, por dentro uma angustia crescente me degolava. Meu cora-
ção insistia e chamava pelo seu nome. Na minha vida existia um outro rompi-
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