LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
À noite, eu preparava o jantar quando ele chegou. Veio, me beijou, e
entrou para os quartos. Ouvi um grito horrível, corri para lá e ele estava na porta
do quarto pálido, apontando a mesinha onde antes estavam os carrinhos, e
tremia e gaguejava:
─ Onde eles estão?
─ Caramba, Hugo, você quase me mata de susto. Estão ali, na gaveta do
móvel,
─ Nunca mais me tire eles do lugar.
Fiquei perplexa. Que coisa mais idiota, mas, em fim, não custava atendê-lo.
O tempo passava, eu não conseguia engravidar, mas a expectativa de Hugo
era grande, sempre pensando em nosso filho que um dia viria.
Logo aquilo foi se tornando um hábito, passou a consultar sobre o assunto
na Internet, foi se informando sobre modelos mais raros e como consegui-los.
Adquiria-os em sites especializados, de colecionadores.
─ Este o Huguinho vai adorar.
E assim continuou.
─ Doutor, esta é a nossa história, estou muito preocupada com ele, por isto
o procurei.
─ Imagine, a senhora não deve se preocupar. Ele está fazendo isto
pensando no filho de vocês, que um dia virá. Eu mesmo também tenho vários
“Hot wheels”.
─ O Senhor também tem 6.000 deles?
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