LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Companheira de Bordo
Amélia Luz
Pirapetinga/MG
Cá pelas bandas de Minas tomei o ônibus para uma pequena viagem rumo a
uma cidade próxima e mais desenvolvida. Tranquilamente cochilei! Olhei a
paisagem verdejante nessa época do ano, com seus matizes perfeitos. As serras
arroxeadas, as campinas, os montes arredondados polvilhados de gado branco
para engorda. Cheguei a um pequeno lugarejo onde o ônibus faz parada e
“apeiam” e sobem passageiros.
Esperei alguns minutos, motorista conferindo as passagens até que um
homem de meia idade entrou com uma bolsa preta na mão. Vestia um uniforme
de brim azul-escuro com um boné na cabeça. Nas costas da camisa trazia um
número de telefone pintado artesanalmente em pincel com tinta branca e um
nome, “Zé do Taco”.
Ajeitou-se cuidadosamente, colocou a bolsa na poltrona da janela e sentou
na do corredor, a meu lado. Estando tudo em ordem o motorista deu a ignição e
partimos. Há alguns quilômetros rodados, a bolsa preta começou a se mexer
como se lá de dentro tivesse um fantasma que quisesse sair. O passageiro a meu
lado ficou espantado tentando controlar o inesperado. Foi então que, de dentro
da bolsa um som estranho nos surpreendeu:
– Cocorocooóó!!! Cocó... Có... Có... Cororocó!!!
O dono da bolsa começou então, inteligentemente a imitar a galinha que
transportava, para disfarçar e enganar o motorista e demais passageiros, pois
como todos sabem transportar animais em coletivos é proibido por Lei. Quando a
galinha começava a cantar, com expressão de comediante, ele imediatamente
começava a imitá-la dando a impressão de que o cacarejar vinha da sua boca,
por piada ou brincadeira.
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