Revista LiteraLivre 12ª edição | Page 50

LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018 ao rompimento definitivo ou como os ataques descritos à mão, de um Lennon magoado e furioso, a Paul McCartney, arrematada por milhões de dólares. Lembro-me de quando ainda garoto escrevia cartas ditadas pela minha mãe para a parentela – Ela não sabia escrever- Com meio pai passando para lá e para cá, e vez por outra, vociferando qualquer coisa do tipo sobre meus ombros “Você não deve repetir a mesma palavra!” ou, “Resuma tudo o que você quer dizer!” e mesmo assim, quase sem querer, ensinava-me um pouco do que eram os rudimentos da técnica de comunicação. É difícil de imaginar tudo isso na era da “informação”, porque, entre os toques nervosos em tablets e smartphones apenas informamos; estamos sempre enviando mensagens enquanto fazemos outras coisas. (Bem, acho que você certamente já teve a experiência de conversar com alguém enquanto essa pessoa lhe acena positivamente com a cabeça e responde um “Zap”). E aqui, apesar de não ser um bruxo, lanço também minha profecia, minha visão do futuro: Haverá o dia, em que as máquinas irão criar a transferência de consciência, o implante de falsas memórias, mas sensação física do primeiro toque, do primeiro cheiro, dessa sinestesia geradora do mundo, não – por mais que a experiência da “leitura” e da “escrita” também nos transporte além de nosso ambiente físico- corpóreo, como um link– porque quando lançamos os dedos ou o olhar sobre a superfície de qualquer coisa, a fim de ler, de nos comunicarmos, há ali também qualquer coisa de fetiche, de sedução. Como o hábito de fumar, que não apenas está relacionado simplesmente ao trago, ao gosto da nicotina, mas a sensação do dedo rolando a roldana contra a pedra de pederneira, a chama que sobe sob o gás propano. No fim, é a velha ilusão do tempo em que a hiperconectividade nos coloca agora. A sensação de estarmos indo lento demais num piscar de luzes, de sins e de nãos, a velocidades cada vez mais rápidas, e por isso, frustrados, achando- nos out, nos entupimos de Lexotan e vemos o romantismo como coisa do passado. 44