LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Diferentemente do que Osair profetizou à época, A Carta saiu vencedora e nunca
mais se ouviu falar na mídia de algo relacionado ao carbúnculo, salvo a banda
Nova Yorquina de trash metal, de mesmo nome, e que no período ficou
constrangida com a associação bizarra.
A Carta só começaria a ver sua derrocada, seu modelo relegado ao canto na
história, com o nascimento do e-mail, a ascensão das redes sociais, e, mais
recentemente (?), o fenômeno WhatsApp.
Difícil imaginar todo o lirismo pungente em que Oscar Wilde escreveu para o
seu amado Bosie, sob as lágrimas derramadas nas folhas de papel atrás dos
muros de Reading ou a famosa troca de correspondências entre os poetas Rainer
Maria Rilke e Franz Kappus; tudo isso digitado com a supressão de substantivos,
verbos, adjetivos.
Em uma Carta há tempo (ou havia) para sermos reflexivos, cuidadosos em
cada letra, e por isso, mais profundos. Tempo para nos acomodarmos ao banco-
como um concertista passando em revista a sua pauta, depois de revisado todo o
programa, suspira.
Algumas Cartas poderiam levar até um pouco de perfume ao ser amado; o
fio de um cabelo caído ali por descuido. O tremor em cada letra pela emoção, ou
a inabilidade do desenho na forma cursiva, denunciando a instrução humilde de
quem sabe escrever pouco mais do que o próprio nome, mas que mesmo assim,
desfilava seus garranchos com orgulho.
E mesmo as que ainda estavam guardadas há muito tempo em velhos baús,
já quase esquecidas, podiam ser acariciadas com a ponta dos dedos, ou das
luvas, percorrendo lhes cada linha, admirados com a folha enrugada, com a ação
da atmosfera, que lhe conferiu um ar amarelo de “dignidade”, ao mesmo tempo
em que pensávamos: Parece que foi ontem…
E há as Cartas ilustres, dignas de objeto de estudo, ou adoração.
Memorabilias que definiram certos rumos ou acontecimentos na história,
protegidas geralmente por vidros e sistemas de seguranças - a exemplo das
missivas de Freud e Jung, expostas num museu de Zurique, relatando ao público
curioso desde os primeiros anos da amizade entre os dois gigantes da psicanálise
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