Revista LiteraLivre 12ª edição | Page 176

LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018 Isso faz uns três dias. Desde então que eu varro os caminhos pelos quais o Rio de sua vida segue, jogando no Mar de meu vestido as poeiras, enquanto te chamo em minha canção. Que bom que me escutou – agora te ajoelha nessa areia branquinha, que eu quero varrer os terreiros da tua coroa. Sem hesitar me ajoelhei e cantei com ela a antiga canção do encante: “Espana os terreiros com vassoura de algodão, com os poderes de Jesus Cristo e da Virgem da Conceição...” Me acordei neste mundo bem a tempo de perceber que não era que estava sonhando com Mamãe Oxum, mas era ela que me sonhara. No seu sonho tocou-me ser uma caminhante filha dos encantes do antigamente – coroa dos orixás que sonham com o passado negro que circula em nossas veias. Meus passos vêm de muito longe, resgatam essa força que marca a areia, porque pisa sobre os passos de tantos outros que vieram antes de mim e que já foram há muito tempo para o além-mundo... Esse Rio que corria, corria em mim... a areia espanada, saía de minha história para margeá-la. Mamãe Oxum cantava meu destino, e seu canto era um destino que eu seguiria até me perder totalmente deste mundo sem cor. 170