LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Isso faz uns três dias. Desde então que eu varro os caminhos pelos quais o Rio
de sua vida segue, jogando no Mar de meu vestido as poeiras, enquanto te
chamo em minha canção.
Que bom que me escutou – agora te ajoelha nessa areia branquinha, que eu
quero varrer os terreiros da tua coroa.
Sem hesitar me ajoelhei e cantei com ela a antiga canção do encante:
“Espana os terreiros com vassoura de algodão, com os poderes de Jesus Cristo e
da Virgem da Conceição...”
Me acordei neste mundo bem a tempo de perceber que não era que estava
sonhando com Mamãe Oxum, mas era ela que me sonhara.
No seu sonho tocou-me ser uma caminhante filha dos encantes do antigamente –
coroa dos orixás que sonham com o passado negro que circula em nossas veias.
Meus passos vêm de muito longe, resgatam essa força que marca a areia, porque
pisa sobre os passos de tantos outros que vieram antes de mim e que já foram
há muito tempo para o além-mundo...
Esse Rio que corria, corria em mim... a areia espanada, saía de minha história
para margeá-la.
Mamãe Oxum cantava meu destino, e seu canto era um destino que eu seguiria
até me perder totalmente deste mundo sem cor.
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