LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Uma gaveta que não quer abrir
Victor Hugo Mariano
Milagres/CE
Uma porta se fecha e outra abre
Um mundo se vai e então outro fica
Nunca sei o que em verdade me cabe
Enquanto tudo do meu sentido se esquiva
Respiração lenta porém ainda ativa
Pálpebras palpitam e é possível escutar
O grunhir de cordas a pedir e implorar
A força reativa e a luta exaustiva
De quem precisa em urgência despertar
Vejo em meus joelhos o mar vermelho
Que volta do além pra me aterrorizar
Tento desesperado correr e me salvar
Mas o veneno do grande escaravelho
Sempre estava ali olhando a esperar
Mas quando pensei que estava salvo
Vi o símbolo maior da senhora morte
Tentava me impor a pior dessas sortes
Mas eu não era verdadeiramente o alvo
Pois as portas a deixaram sem nenhum suporte
Não que nada disso realmente importe
Mas todo mundo tem algo a não expor
Talvez um simples recorte de uma dor
Algo que te acompanhe além do visor
E depois que vai se pôr a recompor
Talvez uma gaveta que não quer abrir
Uma imagem de uma pintura incolor
Que não impede em nada de sorrir
Mas que decerto cria fungos e bolor
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