Revista LiteraLivre 12ª edição | Page 175

LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018 A brisa suave, ainda estava fria como se não tivesse sido aquecida pelos raios quentes do Sol. A brisa foi se transformando numa voz doce e melodiosa. Reconheci nela o encante que me trouxera até ali... Havia me perdido do mundo para me encontrar naquele além-mundo à procura de uma voz desconhecida que espalhava as folhas daquela mata. A cada passo, meus pés afundavam naquela areinha macia. Não era difícil de caminhar por ela, parece que a areia me empurrava para cima tão logo meu pé afundava. Suspeitei que ela queria beijar meus pés para evitar o cansaço. Ao meu lado, a água do Rio também se movia. Ele tomava a mesma direção que eu...do mesmo modo, nos seguiam as folhas que caiam da mata. Não foi preciso caminhar muito, avistei uma figura que se mexia na beira do Rio. Entretida, ela cantava a melodia que me trouxera ali, enquanto varria com uma vassoura de algodão a areia branquinha da praia. A mulher trajava um vestido azul como o Mar e realmente eu via ondas nele quando a brisa soprava. Aquela mulher estava vestida de Mar. Enquanto ela cantava, as ondas quebravam no vestido. Era bonito de ver. Sua pele negra como a noite, me fez entender que ela vinha do antigamente e tinha viajado muito para me encontrar na beira daquele Rio. Assim que me aproximei, ela parou de cantar e levantando a cabeça, me disse: Deus te Salve, minha filha. Venho de muito longe varrendo os caminhos para te encontrar. E eu me apressei em lhe responder: Deus te Salve, Mamãe Oxum – porque naquela hora lhe reconheci – vim caminhando por essa praia até lhe ver varrendo essas areinhas alvas. Onde estamos? O que a Senhora faz? Então, Mamãe Oxum virou-se na direção do Rio, olhou por um longo tempo a água e enquanto eu permanecia em silêncio, respondeu para mim: – Minha Filha, eu estava sentada no meio do Rio, quando ouvi meu Pai Oxalá me chamar. Sua voz mansa, tão antiga quanto o meu Rio, soava na mística da brisa, enviando-me uma ordem que me vestiu de Mar. Não percebe que o amarelo de minhas vestes se foi? Ele me mandou vir espanar os teus caminhos com essa vassoura de algodão; jogando em minhas ondas as poeiras do teu coração. Desci do Rio e quando cheguei na beira d’água chamei um passarinho para me trazer o algodão com qual fiz essa vassoura. 169