LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Eu adoro ter essas conversas comigo mesma. Além de psicoterapêutica, também
servem para que a gente tenha idéia. Idéias brilhantes e ao mesmo tempo
inocentes.
Queria me tornar viúva, mas sem sofrer enxovalhos. Enfim viver uma viuvez
sem percalços. Hoje, como todos os dias, tenho alguns planos... E hoje eu
acordei brilhante e imaginativa!... Para começar eu fiz um café que não é café.
Não, também não é nescafé. É veneno. Veneno com gosto de café descafeinado.
As torradas parecem torradas, qualquer um juraria que são torradas... Mas não
são. Minto, são sim, pois eu as tostei na chapa com manteiga. Só que eu as
gratinei com sulfureto, carbureto de sódio e hidroquinone, que produz efeitos
colaterais ao ser digerido!... Oh!... E o açúcar! O açúcar é minha obra-prima.
Contém arsênico granulado enriquecido com vitamina C, que é bom para gripes e
resfriados e serve para disfarçar o gosto. Enfim, uma boa mistura que deve
causar lesões, ou no mínimo algum distúrbio funcional que leve a uma morte
tranquila e suave pela ação química que exerce no organismo. Vá lá!... Se não
serve para matar que o engorde lentamente até a estourar os bofes!... O que
seria uma morte fantástica!... Com cacos de marido por todos os lados... Seria
maravilhoso... Espetacular!
Eu me divirto tanto quando penso nos outros... Só assim nos livramos de
nossas próprias preocupações... Ou fazendo um relaxamento bem confortável
que consiste em girar lentamente pelo chão, primeiro sobre a nádega esquerda e
depois sobre a nádega direita. É delicioso!... Você quer experimentar?...
Venha!... Faça junto comigo... Venha confie em mim... A mulher quando quer
consegue!... Vamos!... Iniciemos o dia com otimismo e energia... Respiremos
fundo e digamos: hoje posso fazer o bem aos meus semelhantes!…
Arre!... Esses solilóquios me aborrecem... Mas voltemos ao meu marido.
Como eu estava dizendo ele canta e fala desafinado. E eu odeio quando me
chama de filhinha!... “Filhinha sirva-me o café...” Aí eu respondo: “Não me
chame de filhinha se não qualquer dia desses eu ponho veneno no seu café...”
Ele não entende que falo a verdade, imagina que estou brincando, e diz
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