Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 95

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 pedidos feitos de acordo com as encomendas, essas coroas eram do tamanho de um aro de bicicleta. Tinham as folhas e flores feitas de lata, material parecido com o zinco, todas recortadas, trançadas, presas nos fios de arame que formavam a circunferência. E pintadas à mão. Essas coroas resistiam por anos e anos, mas desbotavam. Então, anualmente elas recebiam uma demão de tinta. Tinta a óleo verde para as folhas, e as flores sempre vermelhas, amarelas, ou brancas. Eram essas as cores que Juvenal usava. Não colocava outras cores. Nem sei se havia... Nunca ninguém ousou misturar o vermelho com branco para fazer a flor rosa. Vivi essa realidade por anos e anos a fio, e nunca vi uma flor de lata pintada de outra cor que não fosse vermelha, amarela, ou branca. E todos estes serviços, desde o aterramento dos túmulos até a pintura das coroas de lata, tudo era feito por Juvenal. Bastava olhar o túmulo no dia de Finados. Pelas cores da coroa era possível saber se tinha, ou não, recebido os cuidados do Juvenal. E, para dar conta de todo esse trabalho, Juvenal começava com muitos dias de antecedência. Primeiro fazia os serviços mais grosseiros. Aterrava, consertava as calçadas, recolocava os tijolos que faltavam, recompunha os túmulos com rachaduras, cuidava dos rebocos, da pintura dos jazigos. E eram muitos... Dezenas e dezenas deles. E, por último, ficava o serviço de pintura das coroas de lata. Que também eram muitas... Dezenas e dezenas delas. Trabalhava das seis da manhã às seis da tarde. Levava a comida num caldeirão com tampa, assim não perdia tempo em voltar para casa no meio do dia. E como trabalhava! Particularmente nesse ano, nesse período de Finados o trabalho estava atrasado. Talvez pelo calor excessivo, talvez por ter assumido mais tarefas que nos anos anteriores, ou até mesmo porque Juvenal estava mais velho, mais lento. Enfim, não importava a razão, o que importava é que o trabalho estava atrasado, e precisava ser feito em tempo. Assim, na véspera, faltando um dia para Finados, Juvenal, que precisava finalizar a pintura das coroas, e sabendo que para isso precisaria de mais horas 89