LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Juvenal e o Entregador de Pães
Regina Ruth Rincon Caires
Araçatuba/SP
O dia de Finados estava se aproximando...
Época do ano que rendia um ganho a mais para Juvenal, e que o ajudava a
remendar as dívidas. Era pintor de parede, ajudante de pedreiro, enfim, era o
que precisava que fosse. Pau pra toda obra! O que não lhe faltava era disposição.
Homem de meia idade, sem estudo, nascido e crescido por ali. Benquisto,
transitava bem entre todos os moradores da vila.
O cemitério, que ficava na saída da vila, na parte alta, podia ser visto de
longe. Era imenso, todo cercado com muro de tijolos. Dentro, muito espaço. A
pequena capela ficava perto do portão de entrada, e, por toda a volta, túmulos
largamente espalhados. No fundo do terreno, uma área enorme, desocupada,
reservada para servir aos futuros funerais por muitos e muitos anos.
Alguns jazigos eram religiosamente cuidados durante todo o ano. As
famílias visitavam seus mortos semanalmente, quinzenalmente. Limpavam,
podavam as plantas que cercavam as sepulturas, cuidavam da pintura quando
descorada. Esses jazigos sempre estavam impecáveis! Os demais ganhavam
trato apenas na época de Finados. E sempre havia muito trabalho. As chuvas,
com as suas enxurradas volumosas, levavam a terra, as calçadas e os tijolos das
sepulturas. E havia, ainda, as rachaduras provocadas pelas acomodações do
terreno. Além disso, o sol impiedoso descorava as pinturas, deixava tudo muito
triste, desgastado.
Naquela época não havia floricultura nem flores plásticas. As flores, que
eram colocadas nos túmulos, eram colhidas nos quintais das casas. As famílias as
levavam no amanhecer do dia de Finados, e eram colocadas em vasos com água,
sem a menor preocupação com doenças. Não se falava em dengue.
Se não fosse dessa maneira, recorriam às flores de papel crepom e de
pano, feitas em casa, ou às coroas de flores de lata. Compradas na funerária,
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